Entenda o 'Fundo Florestas Tropicais para Sempre', proposta liderada pelo Brasil

Plano quer pagar países que mantêm suas florestas em pé e transformar a preservação em um bom negócio para o planeta

Publicado em 6 de novembro de 2025 às 14:26

O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva cumprimenta o primeiro-ministro britânico Keir Starmer e o príncipe William durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas
O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva cumprimenta o primeiro-ministro britânico Keir Starmer e o príncipe William durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas Crédito:  Lucas Landau/COP30

O Brasil quer lançar, durante a COP30, um novo modelo global para proteger as florestas tropicais: o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês).

A ideia é simples — mas ambiciosa: pagar países que cuidam de suas florestas, como forma de reconhecer o valor que elas têm para o equilíbrio do clima mundial.

O fundo deve movimentar até 125 bilhões de dólares e promete se tornar um dos maiores mecanismos de financiamento ambiental do planeta.

Mas ele também divide opiniões entre governos, ambientalistas e organizações internacionais.

A seguir, entenda em cinco pontos o que é o TFFF, como ele deve funcionar e por que essa proposta é tão importante para o Brasil.

 1. O que é o TFFF?

O TFFF é um fundo internacional proposto pelo governo brasileiro para recompensar financeiramente países que mantêm suas florestas de pé.

Hoje, derrubar árvores ainda dá mais lucro do que preservá-las. O TFFF quer mudar essa lógica, fazer com que conservar também dê retorno econômico.

Na prática, o fundo criaria uma espécie de “renda florestal global”, em que cada hectare de floresta preservado renderia um pagamento anual.

Se o país aumentar o desmatamento, o valor cai. Se mantiver ou ampliar a área conservada, ganha mais.

2. De onde vem o dinheiro?

O plano é reunir 125 bilhões de dólares vindos de governos, empresas e investidores privados.

Desse total, 25 bilhões viriam de países parceiros, como Brasil, Noruega, Alemanha, Reino Unido, França e Emirados Árabes Unidos.

Os outros 100 bilhões seriam levantados no mercado financeiro, com investimento em áreas de baixo risco, nada de petróleo, carvão ou atividades poluentes.

O dinheiro seria aplicado, e parte do rendimento serviria para pagar os países que comprovarem, por satélite, que mantêm suas florestas conservadas.

Pelo menos 20% dos recursos precisam ir diretamente para povos indígenas e comunidades locais, reconhecidos como os principais guardiões da floresta.

3. Quem participa?

O TFFF deve incluir até 74 países tropicais, entre eles Brasil, Indonésia, República Democrática do Congo, Gana e Malásia, regiões que concentram as maiores florestas do mundo.

O lançamento oficial está previsto para a Cúpula de Líderes da COP30, em Belém.

O presidente Lula deve anunciar a entrada do Brasil com o primeiro aporte de 1 bilhão de dólares.

“O TFFF não é caridade, é um investimento na humanidade e no planeta”, afirmou Lula.

 4. Por que há críticas?

Apesar de ser considerado inovador, o TFFF tem levantado preocupações entre ambientalistas.

As principais críticas são:

• Dependência de investidores privados, o que pode dar mais poder a quem financia do que a quem conserva;

• Falta de garantias de que o dinheiro chegue mesmo às comunidades locais;

• Risco de desigualdade entre países e ausência de regras mais duras sobre onde o dinheiro pode ser aplicado.

Organizações como o Greenpeace alertam que o fundo precisa ter transparência e controle social para não se tornar apenas um investimento com selo verde, sem efeito real na floresta.

5. Por que é importante para o Brasil?

O TFFF é visto como uma das maiores apostas do Brasil na COP30.

Com o fundo, o país quer mostrar que proteger a Amazônia, o Cerrado e a Mata Atlântica não é apenas um dever ambiental, mas um serviço prestado ao planeta inteiro, e que merece ser valorizado financeiramente.

O projeto também reforça a cobrança antiga de que países ricos, maiores responsáveis pela poluição histórica, devem pagar mais para apoiar o desenvolvimento sustentável das nações que ainda têm florestas em pé.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, resumiu o espírito da proposta:

“Já exploramos demais a natureza. Agora é hora de usar os recursos que geramos para protegê-la. O Fundo Florestas Tropicais para Sempre representa uma virada de chave.”