Publicado em 6 de julho de 2025 às 16:08
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, defendeu, neste domingo (6), que é preciso planejamento para enfrentar as mudanças climáticas e promover a transição energética. Ao falar sobre os investimentos na exploração de combustíveis fósseis no país, a ministra afirmou que as “contradições existem no mundo inteiro, não só no Brasil”.>
Marina concedeu entrevista durante a Cúpula do Brics, que ocorre entre este domingo e segunda (7), no Rio de Janeiro, sob a liderança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A ministra foi questionada por jornalistas sobre os projetos do governo e da Petrobras como a exploração de petróleo na Margem Equatorial do Brasil, extensa área marítima que vai do Rio Grande do Norte ao Amapá e onde o Rio Amazonas deságua no Oceano Atlântico.>
“Nós vivemos um momento de muitas contradições, e o importante é que estamos dispostos a superar essas contradições”, disse.>
“Em Dubai [na 28ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas – COP28, em 2023] nós assumimos o compromisso de fazer a transição para o fim de combustível fóssil, com países ricos liderando essa corrida, países em desenvolvimento vindo em seguida. E o que eu tenho dito é que é preciso que tenhamos uma espécie de mapa do caminho para essa transição. A pior forma de enfrentarmos uma situação adversa, e ela é adversa para todos, é não nos planejarmos para ela. Por isso que, muito corretamente, foi estabelecido que é uma transição justa e planejada”, acrescentou.>
Por outro lado, Marina citou como exemplo o compromisso brasileiro de zerar o desmatamento até 2030, enquanto tem na agricultura o maior peso da sua balança comercial. “Já conseguimos reduzir desmatamento em 46%, na Amazônia, e em 32%, no país inteiro”, lembrou.>
“E olha que coisa interessante, nós conseguimos reduzir desmatamento nessa quantidade, evitamos lançar mais de 400 milhões de toneladas de gás carbônico na atmosfera e, ao mesmo tempo, a nossa agricultura cresceu 15% e nós tivemos um aumento da renda da per capita em mais de 11%, e o Brasil conseguiu abrir mais de 300 mercados para a sua agricultura”, destacou a ministra.>
Liderar pelo exemplo>
A ministra Marina Silva afirmou, ainda, que o Brasil é capaz de liderar pelo exemplo na questão ambiental. Para isso, ela cobrou um financiamento robusto, pelos países desenvolvidos, para as ações de enfrentamento a mudanças climáticas, principalmente, em países mais vulneráveis.>
“O Brasil, talvez, seja um dos únicos países que tem um compromisso de zerar desmatamento até 2030. E nós consideramos que isso é liderar pelo exemplo”, reforçou Marina, ao citar as metas de redução de emissão de gases de efeito estufa, além de diversas ações do governo brasileiro em sua política ambiental interna.>
Segundo a ministra, há décadas, uma série de decisões vem sendo tomadas em relação ao enfrentamento da mudança do clima, e o gargalo, hoje, é a implementação dessas decisões e a ausência de financiamento na quantidade e constância necessárias.>
“Todos os países em desenvolvimento são unânimes de que precisamos de recursos financeiros e de recursos tecnológicos; de juntar recursos públicos que sejam alavancadores, inclusive, para que a gente possa ter acesso a recursos privados”, afirmou.>
“É necessária, também, transferência de tecnologia para ajudar países em desenvolvimento a fazerem suas transições, a reduzirem suas emissões e, sobretudo, a se adaptarem a uma situação que já é realidade. São recursos muito volumosos na área de infraestrutura. Tem uma outra agenda, que é a de perdas e danos: como reparar os prejuízos daquelas populações e regiões que já estão sendo dramaticamente afetadas, principalmente os países mais vulneráveis”, acrescentou.>
Marina lembrou que a COP29, realizada em Baku, Azerbaijão, em 2024, estabeleceu o objetivo de aplicar US$ 1,3 trilhão anualmente em financiamento climático para países em desenvolvimento até 2035. Entretanto, o acordo fechado ficou em US$ 300 bilhões por ano que os países ricos deverão destinar para combate e mitigação da crise do clima.>
Neste ano, a COP30 ocorrerá sob a presidência do Brasil, em Belém, e, segundo Marina, o objetivo do governo é que seja a COP da implementação, com compromissos financeiros robustos e metas de redução de emissões ambiciosas. Até agora, apenas 22 países apresentaram as suas metas.>
Serviços ambientais>
A ministra citou as iniciativas do Brasil para mobilizar a comunidade global durante a presidência do G20, no ano passado, e do Brics, no último semestre, em temas relacionados a desenvolvimento sustentável e mudanças climáticas. O Brasil tem uma proposta que é o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, que combina investimento público com captação de recursos no mercado privado, com o objetivo de captar cerca de US$ 4 bilhões por ano, a serem distribuídos entre os 70 países com florestas tropicais preservadas.>
"É o pagamento por serviços ambientais, de conservação das florestas", explicou Marina. “As florestas prestam serviços para o equilíbrio do planeta e isso ajudará a conservar florestas e seus povos originários e locais, que são responsáveis pela preservação dessas áreas no mundo inteiro”, afirmou.>
Ainda de acordo com a ministra do Meio Ambiente, o governo Lula vem trabalhando em uma proposta de remunerar grandes, médias e pequenas propriedades rurais que têm reserva legal excedente.>
“São instrumentos econômicos para que a gente possa enfrentar a mudança do clima, a desertificação, a perda de biodiversidade e, ao mesmo tempo, combater a pobreza e as desigualdades, gerando emprego, gerando renda e, exatamente em função disso, é que nós estamos trabalhando medidas alternativas para viabilizar recursos, como é o caso do Fundo Clima, do Ecoinvest e do próprio Fundo Amazônia”, contou.>