Publicado em 25 de agosto de 2025 às 12:14
As 20 maiores árvores já registradas na Amazônia e na América Latina – todas da espécie angelim-vermelho (Dinizia excelsa), com alturas entre 70 e 88 metros – permanecem ameaçadas pelo garimpo ilegal, desmatamento e grilagem de terras. O alerta é da campanha “Proteja as Árvores Gigantes”, liderada pelo instituto O Mundo Que Queremos, em parceria com outras 20 organizações ambientais e pesquisadores.>
O movimento pela proteção das árvores gigantes está lançando hoje, dia 22 de agosto, uma nota técnica (acesse aqui) alertando sobre as crescentes ameaças à região e cobrando a adoção urgente de medidas efetivas de proteção. O documento será encaminhado a órgãos ambientais estaduais e federais.>
“Não basta o parque existir no papel. É preciso assegurar a presença efetiva do Estado e garantir que a unidade de conservação cumpra sua função socioambiental, que é proteger de forma integral as árvores gigantes. A COP30 será a grande vitrine do Brasil para o mundo, e não podemos correr o risco de exibir um santuário que simboliza a grandeza da biodiversidade amazônica enquanto a floresta continua ameaçada”, afirma Angela Kuczach, articuladora da campanha e diretora-executiva da Rede Pró-UC.>
Descobertas em 2022 a partir de uma pesquisa do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) conduzida em parceria com diversas instituições nacionais e internacionais, essas árvores centenárias – entre 400 e 600 anos – correm o risco de desaparecer antes mesmo de serem estudadas pela ciência e apresentadas ao mundo.>
A campanha “Proteja as Árvores Gigantes” tem mobilizado a sociedade civil e pressionado o Poder Público em defesa das árvores monumentais. Suas ações contribuíram para avanços importantes, como o cancelamento de cerca de 500 Cadastros Ambientais Rurais (CARs) ilegais pelo Governo do Pará, enfraquecendo a grilagem, e a criação, em setembro de 2024, do Parque Estadual das Árvores Gigantes da Amazônia. O novo parque foi desmembrado da Floresta Estadual do Paru (Flota Paru), uma das maiores unidades de conservação de uso sustentável do mundo, mas que não oferecia proteção adequada às árvores.>
Parque continua sem proteção>
Com 560 mil hectares, o Parque Estadual das Árvores Gigantes da Amazônia, em Almeirim (PA), é uma unidade de conservação de proteção integral criada para preservar a maior árvore do Brasil – um angelim-vermelho de 88,5 metros, equivalente a um prédio de 30 andares – e outros 12 exemplares gigantes.>
Apesar da nova categoria garantir proteção integral conforme o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), o Parque ainda enfrenta falhas significativas na fiscalização e gestão, colocando em risco a preservação dessas espécies e do ecossistema único onde vivem.>
A gestão do Parque está sob responsabilidade do IDEFLOR-Bio, órgão estadual encarregado das Unidades de Conservação do Pará. No entanto, um único gestor do Parque é responsável por essa e outras três UCs, que, somadas, abrangem cerca de 7 milhões de hectares, o que compromete a atenção e a fiscalização necessárias para proteger o santuário das árvores gigantes.>
No Amapá, a situação é ainda mais preocupante. As sete árvores identificadas no estado estão distribuídas em três áreas: a Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Rio Iratapuru, a Floresta Nacional do Amapá e assentamentos na região de Maracá-Camaipi. É na RDS do Rio Iratapuru, em Laranjal do Jari, onde está a segunda maior árvore já descoberta – um angelim-vermelho de 85,44 metros.>
Porém, essa categoria de unidade de conservação permite exploração madeireira autorizada e não garante proteção integral. Por isso, a campanha defende que, assim como ocorreu no Pará, seja criada uma unidade de conservação de proteção integral para assegurar a preservação desses exemplares.>
Sem fiscalização o garimpo avança>
A região sofre diversas pressões que ameaçam diretamente o santuário. O garimpo de ouro é a principal delas. No Amapá, a cerca de 1 km da segunda maior árvore já encontrada, opera um garimpo ilegal, vizinho ao garimpo São Domingos – outro foco antigo de mineração clandestina na região.>
O Parque Estadual das Árvores Gigantes, no Pará, também está sendo pressionado pelo garimpo ilegal. Durante a consulta pública para sua criação, garimpeiros locais chegaram a se manifestar contra a implantação da unidade de conservação. Embora não se tenha dados oficiais que confirmem a presença de garimpos dentro dos limites do parque, moradores do entorno relatam sinais da atividade clandestina, como a coloração anômala da água de igarapés e o surgimento de clareiras recentes na floresta. A situação reforça a necessidade de investigações em campo e da análise de imagens de satélite para comprovar a extensão do problema.>
Nos últimos anos, a região recebeu poucas ações de fiscalização. Segundo o próprio Governo do Amapá, a mais recente aconteceu no município de Laranjal do Jari, em novembro de 2024, quando a Polícia Civil do estado apreendeu uma aeronave e interditou um aeródromo utilizado, de acordo com as investigações, como base de apoio e logística para garimpos ilegais situados no estado do Pará.>
O desmatamento ilegal ou autorizado também avança sob o santuário. A Flota do Paru, vizinha ao parque estadual, possui um histórico preocupante na perda de vegetação nativa: segundo o INPE, até 2023, cerca de 13 mil hectares foram desmatados. Em outubro de 2022, a unidade de conservação foi a quinta mais desmatada de toda a Amazônia.>
Patrimônio natural>
Recentemente, o Ministério Público do Amapá obteve parecer favorável da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SEMA-AP) para reconhecer como patrimônio natural sete árvores gigantes – todas com mais de 80 metros de altura – localizadas em áreas de risco no estado. A Recomendação nº 0004/2024, da Promotoria de Meio Ambiente de Macapá, propõe o tombamento desses exemplares e a criação de uma Área de Preservação Permanente (APP) com raio de 1 km ao redor de cada um, impedindo seu corte ou qualquer exploração econômica.>
Essas árvores estão distribuídas pela Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Iratapuru (RDS Iratapuru), Floresta Nacional do Amapá (Flona) e assentamentos da região de Maracá-Camaipi. O angelim-vermelho situado em Maracá-Camaipi encontra-se em área de concessão florestal, enquanto quatro indivíduos localizados no Cupixi estão próximos a zonas de garimpo.>
O movimento “Proteja as Árvores Gigantes” reconhece a importância da iniciativa de tombamento, mas ressalta que somente a criação de uma unidade de conservação de proteção integral – como um parque estadual – poderá assegurar, de forma efetiva, a preservação do santuário no Amapá.>
Valor científico e climático>
Essas árvores são verdadeiros arquivos vivos da história climática e ecológica da Amazônia, registrando em seus anéis de crescimento informações sobre secas, cheias, estoques de carbono e mudanças atmosféricas. Uma única árvore de grande porte pode acumular até 80% de toda a biomassa de carbono de um hectare, segundo os pesquisadores.>
A pesquisa que levou à descoberta utilizou tecnologias avançadas de sensoriamento remoto e mais de 900 sobrevoos na região, mas apenas 1% da floresta amazônica foi mapeada para a presença dessas árvores, indicando que muitos exemplares podem ter sido derrubados antes de serem identificados.>
“Encontrar uma árvore com 60 metros já é raro. Estamos investigando os fatores que causaram esse fenômeno de gigantismo e esperamos encontrar muitas outras árvores gigantes, inclusive maiores que 88 metros”, explica o pesquisador Robson Lima, da Universidade Estadual do Amapá (UEAP), integrante da equipe do estudo, que após a descoberta passaram a realizar o monitoramento das árvores.>
A primeira parte da pesquisa contou com participação de pesquisadores de diversas instituições brasileiras e internacionais, como o Instituto Federal do Amapá (IFAP), a Universidade Estadual do Amapá (UEAP), a Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e as Universidades de Swansea e Cardiff, no Reino Unido.>