Lula pede “COP da Verdade” em Belém e cobra compromisso real dos países ricos com o clima

Em discurso na Cúpula dos Líderes, em Belém, Lula defende que a COP da Amazônia marque um novo pacto climático global baseado em justiça, transparência e ação concreta.

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Jorge Mateus

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Publicado em 7 de novembro de 2025 às 17:29

Lula pede “COP da Verdade” em Belém e cobra compromisso real dos países ricos com o clima
Lula pede “COP da Verdade” em Belém e cobra compromisso real dos países ricos com o clima Crédito: Rafa Neddermeyer/COP30 Brasil Amazônia/PR

Durante seu discurso na Cúpula dos Líderes da COP-30, nesta sexta-feira (7), em Belém, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu que a conferência na Amazônia seja marcada pela transparência e por compromissos concretos em torno das metas climáticas. Lula propôs que o encontro seja lembrado como a “COP da Verdade”, que reconheça os avanços científicos, mas também enfrente a distância entre promessas e ações no combate à crise ambiental.

“O que nos cabe perguntar hoje é: estamos realmente fazendo o melhor possível? A resposta é: ainda não”, afirmou o presidente. Segundo ele, embora 100 países tenham apresentado novas metas de redução de emissões, o planeta ainda caminha para um aquecimento de cerca de 2,5°C, acima do limite de 1,5°C estabelecido pelo Acordo de Paris.

Lula ressaltou que o desafio climático deve ser tratado como investimento e não como gasto, e criticou o modelo atual de financiamento global, em que países em desenvolvimento contraem dívidas para financiar ações ambientais. “Não faz sentido ético ou prático exigir que nações em desenvolvimento paguem juros para combater o aquecimento global. Isso representa um financiamento reverso, fluindo do Sul para o Norte”, afirmou.

O presidente defendeu a criação de mecanismos de troca de dívida por ações climáticas, a tributação sobre grandes fortunas e corporações multinacionais, além do fortalecimento dos mercados de carbono regulados, lançados em parceria com China e União Europeia. Ele também destacou que o enfrentamento da crise climática precisa contar com o capital privado, pois “sem ele, a conta não fecha”.

Em tom firme, Lula cobrou responsabilidade histórica dos países mais ricos e afirmou que é possível construir uma nova economia verde sem sacrificar o crescimento. “O crescimento das emissões foi inferior ao global no ano passado. Isso mostra que é possível pensar um novo modelo econômico sem sacrificar a geração de riqueza”, disse, acrescentando que o Sul Global precisa ter oportunidades que lhe foram negadas no passado.

O presidente ainda reforçou o papel da Amazônia e dos povos indígenas na mitigação climática. “O Brasil propõe que esta COP na Amazônia reconheça o papel dos territórios indígenas, das comunidades tradicionais e das políticas de proteção como instrumentos de mitigação climática”, declarou.

Lula concluiu defendendo o multilateralismo e a criação de um Conselho Global do Clima, proposta que já apresentou ao G20 e à Assembleia Geral da ONU, como instrumento de governança e ação internacional. “Não existe solução para o planeta fora do multilateralismo. A Terra é única. A humanidade é uma só. A resposta tem que vir de todos para todos. Em vez de abandonar as esperanças, podemos construir juntos uma nova era de prosperidade e igualdade”, finalizou.