Publicado em 7 de novembro de 2025 às 17:28
A poucos dias do início da COP30, que será realizada pela primeira vez no Brasil, em Belém (PA), uma pesquisa internacional revelou que quase metade dos brasileiros ainda não entende o verdadeiro propósito do evento. Conforme o levantamento “Atitudes em relação à COP30”, feito pelo Instituto Ipsos e divulgado às vésperas da conferência, apenas 52% da população nacional reconhece que a COP é uma reunião voltada à negociação de ações para combater as mudanças climáticas, enquanto 48% afirmam não saber do que se trata.>
O estudo, conduzido entre 20 de junho e 4 de julho de 2025, ouviu 23.700 pessoas em 30 países. Outro dado que chama atenção é que somente 35% dos brasileiros sabem que o evento ocorrerá em Belém, embora o país tenha o melhor índice entre os pesquisados, a média global de acerto é de apenas 12%. A pesquisa indica que a divulgação e o engajamento em torno da conferência ainda estavam em fase inicial, devendo crescer conforme o evento se aproxima.>
Nos países que já sediaram conferências anteriores, o reconhecimento é muito maior. Na Alemanha, 64% dos entrevistados souberam identificar corretamente o evento, enquanto França e Reino Unido registraram 59%, acima da média global de 44%.>
Além do desconhecimento, o ceticismo também é expressivo. Quase metade da população mundial (49%) acredita que a COP será apenas simbólica, e 34% apostam em resultados concretos. No Brasil, o cenário é um pouco mais equilibrado: 43% têm baixa expectativa, 41% estão otimistas e 16% não esperam nenhum resultado relevante.>
Os jovens aparecem como o grupo mais confiante: 45% da Geração Z acreditam que a COP trará efeitos positivos, contra 29% entre os boomers. O Sul Global também se mostra mais esperançoso, com 51% dos entrevistados no Oriente Médio e África, 43% na Ásia-Pacífico e 39% na América Latina apostando em efetividade. Em contrapartida, o ceticismo é predominante nas economias desenvolvidas, apenas 25% dos europeus e 24% dos norte-americanos acreditam em resultados práticos.>
Para Márcia Cavallari, diretora do Instituto Ipsos, essa diferença pode estar relacionada à percepção de urgência entre os países. “Os jovens e as populações do Sul Global podem ver as medidas climáticas como fundamentais para suas futuras oportunidades e condições de vida, impulsionando uma perspectiva mais otimista”, analisa. Segundo o estudo, as maiores barreiras percebidas pelos cidadãos são a falta de vontade política (42%), a ausência de fiscalização contra desmatamento e poluição (34%) e o baixo financiamento para projetos ambientais (31%).>
A pesquisa também mostrou uma cobrança crescente sobre o papel de empresas e bilionários na crise climática. Sete em cada dez brasileiros (70%) acreditam que as companhias priorizam o lucro em detrimento do meio ambiente, percentual semelhante à média global de 69%. Ao mesmo tempo, 64% dos brasileiros defendem que empresas sejam obrigadas a destinar parte dos lucros para ações climáticas, e 56% acham que os mais ricos devem arcar com a maior parte dos custos da crise ambiental.>
Outro tema sensível é o agronegócio: metade dos brasileiros acredita que a expansão do setor é incompatível com a preservação da Amazônia, número acima da média global de 42%, mas igual ao de países amazônicos como Colômbia e Peru. “O setor precisa demonstrar concretamente como pode conciliar produção com preservação”, afirma Márcia.>
O estudo também abordou o debate sobre reparações climáticas. A maioria dos brasileiros (59%) apoia que países desenvolvidos paguem compensações financeiras aos mais afetados por desastres ambientais, índice semelhante à média mundial (55%). Já nas nações ricas, como Reino Unido, França, Canadá, EUA, Japão e Alemanha, a aprovação da medida fica abaixo dos 50%.>
Por outro lado, há um forte consenso global sobre a proposta brasileira de remunerar países que preservam suas florestas. Mais de 60% dos entrevistados no mundo e no Brasil concordam que governos devem receber financiamento por proteger e ser penalizados se desmatarem. “Esse apoio global reforça o protagonismo do Brasil e a oportunidade de liderar pelo exemplo em práticas sustentáveis”, avalia Márcia.>
O tema ganha ainda mais relevância com o lançamento do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), apresentado oficialmente em Belém. O mecanismo busca gerar recursos para remunerar quem protege as florestas essenciais ao combate ao aquecimento global. Durante a COP30, o Brasil deve intensificar negociações para atrair novos aportes internacionais ao fundo.>