Publicado em 16 de outubro de 2025 às 20:16
Um novo grupo com 16 ararajubas (Guaruba guarouba) chegou a Belém para reforçar o projeto de reintrodução da espécie nos céus da Região Metropolitana. As aves vieram do aviário da Fundação Lymington, localizado em Juquitiba (SP), e se juntam às 14 que já estavam em solo paraense.>
Os animais foram levados ao viveiro de aclimatação do Parque Estadual do Utinga Camillo Vianna, onde passam por um período de adaptação ao clima, à alimentação e ao ambiente amazônico. No próximo mês, todas as 30 aves deverão ser reintroduzidas na natureza, em uma soltura simbólica durante o período da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em Belém.>
O trabalho é conduzido pelo governo do Pará, por meio do Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade (Ideflor-Bio), em parceria com a Fundação Lymington, e simboliza um avanço importante na conservação de uma das aves mais emblemáticas da Amazônia.>
Desde 2017, o Projeto de Reintrodução e Monitoramento de Ararajubas na Região Metropolitana de Belém já devolveu 58 aves à natureza. O presidente do Ideflor-Bio, Nilson Pinto, celebra os resultados e destaca o esforço coletivo envolvido. “Já podemos assegurar que existe uma geração de ararajubas genuinamente paraense. São oito anos de trabalho dedicado, de pesquisa e de cooperação entre instituições públicas e privadas, que têm garantido o retorno dessa espécie símbolo da Amazônia aos nossos céus”, afirmou.>
A gerente de Biodiversidade do Ideflor-Bio, Mônica Furtado, explicou que as novas aves estão sendo treinadas no aviário recém-reformado do Parque Estadual do Utinga, em preparação para a soltura. “Essas 16 ararajubas se juntam às outras 14 que já estavam conosco e serão liberadas em homenagem à COP30. Devolver essas aves aos céus de Belém tem um valor simbólico e ambiental enorme. A ararajuba é uma espécie endêmica da Amazônia, e cerca de 80% da sua população ocorre no Pará. Tê-la de volta à natureza, especialmente neste momento em que o mundo estará voltado para Belém, é um marco histórico para a conservação da nossa fauna”, destacou.>
Mônica lembra que o projeto já contabiliza marcos expressivos, como o nascimento de sete filhotes de ararajubas no próprio aviário do Parque do Utinga. “Esses filhotes nasceram aqui, na floresta, e não em cativeiro. São as chamadas ‘jubinhas belenenses’. Essa reprodução natural demonstra que o ambiente está adequado e que o trabalho de reintrodução vem atingindo resultados sustentáveis”, acrescentou.>
Preparo para a soltura na natureza>
O biólogo Marcelo Villarta, da Fundação Lymington, explica que o processo de aclimatação é fundamental para o sucesso da reintrodução. “Essas aves nasceram em cativeiro e precisam ser treinadas para a vida livre. Aqui elas aprendem a reconhecer alimentos nativos, como açaí, muruci e araçá, e a desenvolver a musculatura necessária para voos longos. Também se adaptam à convivência em grupo, o que é essencial para a sobrevivência na natureza”, contou.>
Villarta ressalta que a reintrodução é um processo contínuo. “Nosso objetivo é formar uma população autossustentável. Por isso, as reintroduções acontecem em etapas, sempre com novos grupos sendo integrados. É um desafio permanente, que exige cuidado e paciência, especialmente porque a reprodução das ararajubas depende de condições ambientais muito específicas”, explicou o biólogo.>
Além da preparação física e comportamental, as ararajubas passam por um processo de socialização, essencial para a formação de bandos. “Na natureza, elas vivem em grupos familiares grandes, com até dez indivíduos, onde há cooperação entre os membros. Parte se alimenta enquanto outros vigiam o ambiente. Esse comportamento coletivo é uma das chaves da sobrevivência da espécie”, observou Villarta.>
O projeto ganhou novo fôlego com a assinatura do Termo de Colaboração entre o Ideflor-Bio e a Fundação Lymington, em abril de 2024, que garantiu mais dois anos de execução. Até novembro deste ano, a expectativa é que outras 30 ararajubas sejam soltas, ampliando a população e consolidando a recuperação da espécie na região.>
Para o presidente do Ideflor-Bio, Nilson Pinto, a chegada das novas aves simboliza mais que uma ação ambiental — é uma mensagem de esperança. “A reintrodução das ararajubas é um exemplo de que é possível conciliar conservação, ciência e engajamento social. Ver essas aves sobrevoando novamente os céus de Belém é testemunhar a força da vida e o compromisso do Pará com um futuro sustentável”, declarou.>