ONU aponta recorde de temperatura média mundial e aumento de pessoas afetadas por desastres

Na COP30, a Agenda de Ação Climática busca o cumprimento de medidas para manter o aquecimento em 1,5 °C e financiar a adaptação climática.

Publicado em 23 de julho de 2025 às 08:56

O último ano foi o mais quente dos últimos 175 anos.
O último ano foi o mais quente dos últimos 175 anos. Crédito: Pexels

O último ano foi o mais quente dos últimos 175 anos, alcançando a média global de 1,55 °C acima dos níveis pré-industriais, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM). O recorde ocorreu pelo décimo ano consecutivo. Com isso, também aumentaram o número de pessoas impactadas por eventos extremos. As informações estão reunidas no Relatório dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) de 2025, publicado na última semana, pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Estima-se que, atualmente, a temperatura média global esteja entre 1,34ºC e 1,41ºC acima dos níveis pré-industriais, de acordo com a OMM. Essa medida é feita a longo prazo e, por isso, apesar de em 2024 a temperatura ter chegado ao prevista para 2030, no Acordo de Paris, o acordo segue válido e muito relevante.

"O mundo não pode e não deve desanimar com a ação climática. Para manter o limite de aquecimento de 1,5°C ao nosso alcance, o investimento urgente em adaptação, resiliência e redução de emissões deve ser acelerado, especialmente em regiões vulneráveis. O custo da inação excede em muito o custo da ação — e a janela para garantir um futuro habitável e sustentável está se fechando rapidamente", ressalta trecho do relatório.

Impactos

Segundo o estudo, o cenário de extremos climáticos — calor extremo, terremotos, inundações, tempestades e secas — causou o maior deslocamento relacionado ao clima em 16 anos, agravou a insegurança alimentar e também refletiu em perdas econômicas e instabilidade. As perdas econômicas diretas relatadas chegaram a uma média de 202 bilhões de dólares por ano e, quando se incluem os efeitos em cascata e os danos aos ecossistemas, o total ultrapassa 2,3 trilhões de dólares.

Ao todo, 124 milhões de pessoas foram impactadas por desastres, em média, a cada ano, um aumento de 75% entre 2014 e 2023. Ainda segundo o relatório, seguindo classificação da ONU, os países menos desenvolvidos (PMD) e pequenos estados insulares em desenvolvimento (PEID) sofrem esses efeitos mais do que o dobro da média mundial. Os PMDs, por exemplo, são responsáveis por 26% das mortes por desastres no mundo, apesar de representarem apenas 12% da população. A mortalidade relacionada a desastres diminuiu, apesar do aumento da vulnerabilidade frente a esses fenômenos, e está em 0,79/100 mil pessoas. Na década anterior o valor era de 1,61/100 mil.

"Estamos em uma emergência global de desenvolvimento — uma emergência grave — com mais de 800 milhões de pessoas ainda vivendo em pobreza extrema. Os impactos climáticos cada vez mais intensos e o serviço da dívida implacável estão drenando os recursos que os países precisam para investir em seu povo", disse António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, durante o lançamento do relatório.

Financiamento climático

Para lidar com a vulnerabilidade ante extremos climáticos, é necessário financiamento climático para ações de adaptação - que são aquelas destinadas a diminuir os impactos da mudança do clima nas populações e cidades. O documento mostra que estratégias de redução de risco de desastres e sistemas de alerta precoce são essenciais para reduzir as perdas. Em outubro de 2024, 131 países disseram possuir estratégias nacionais de risco de desastres, contra 57 em 2015, e 113 relataram possuir sistemas de alerta precoce para múltiplos riscos.

Os países em desenvolvimento, principalmente, precisam expandir esse tipo de tecnologia e, para isso, é necessário financiamento. "A próxima cúpula global do clima é uma oportunidade crucial para corrigir o curso, avançando nas metas de financiamento climático recentemente acordadas, fortalecendo a cooperação multilateral e implementando planos climáticos nacionais ambiciosos em todos os setores para atingir emissões líquidas zero até 2050", diz outro trecho do estudo.

Na COP30, entre os seis eixos da Agenda de Ação Climática, o último é o de "Facilitadores e Aceleradores Transversais", que inclui o debate sobre financiamento, especialmente, o de adaptação.

"A presidência da COP30 espera trabalhar com a presidência da COP29 na liderança do Mapa do Caminho de Baku a Belém para 1,3T para aumentar o financiamento climático para países em desenvolvimento. Juntos, produziremos um relatório resumindo nosso trabalho até a COP30. O Mapa do Caminho de Baku a Belém para 1,3T deve servir como ponto de apoio para alavancar o financiamento para trajetórias de baixo carbono e de resiliência climática nos países em desenvolvimento, lembrando que os alertas do IPCC sobre a urgência da ação contra a mudança do clima estão centrados nas descobertas de que o financiamento, a tecnologia e a cooperação internacional são facilitadores essenciais para acelerar a ação climática", diz trecho da primeira carta à comunidade internacional, assinada pelo presidente da COP30, André Corrêa do Lago.

O financiamento climático também esteve em debate durante as negociações de Bonn, na Alemanha, no último mês. O tema foi alvo de duas sessões paralelas com contribuições de dezenas de países e representantes não estatais.