Pesquisadores transformam mandioca e caroço de açaí em embalagens sustentáveis no Pará

Batizado de “Bioembalagens da Amazônia”, o estudo está sendo conduzido pela UFPA e busca criar embalagens sustentáveis que substituam o plástico comum.

Publicado em 20 de junho de 2025 às 10:58

Batizado de “Bioembalagens da Amazônia”, o estudo está sendo conduzido pela UFPA e busca criar embalagens sustentáveis que substituam o plástico comum.
Batizado de “Bioembalagens da Amazônia”, o estudo está sendo conduzido pela UFPA e busca criar embalagens sustentáveis que substituam o plástico comum. Crédito: Agência Pará 

Já pensou usar o caroço do açaí e a mandioca como matéria-prima para fazer embalagens biodegradáveis? Pois é exatamente isso que uma pesquisa desenvolvida na Universidade Federal do Pará (UFPA) está fazendo, e o projeto pode colocar o estado como referência em soluções sustentáveis às vésperas da COP 30, que será realizada em Belém, em 2025.

Batizado de “Bioembalagens da Amazônia”, o estudo está sendo conduzido pelo Laboratório de Biossoluções e Bioplásticos da Amazônia (Laba) e busca criar embalagens sustentáveis que substituam o plástico comum, aquele mesmo que polui rios e oceanos no mundo inteiro. O segredo está em dois ingredientes bem conhecidos dos paraenses: o amido da mandioca e o caroço do açaí.

A ideia é transformar o que hoje é considerado resíduo em solução para um dos maiores problemas ambientais da atualidade. A escolha do açaí não foi à toa: além de movimentar a economia do estado, o fruto está no prato (ou na cuia) da maioria da população. Já a mandioca é base da alimentação regional e, por conter alto teor de amido, se mostra excelente para a produção de bioplásticos.

Segundo o professor José de Arimateia Rodrigues, coordenador do projeto, o objetivo é simples e ambicioso ao mesmo tempo: desenvolver protótipos de embalagens biodegradáveis que possam ser usadas em escala industrial. “Queremos reduzir o uso do plástico tradicional e ainda fortalecer a bioeconomia local”, explica.

O projeto conta com apoio da Fapespa, Uepa, Fadesp, Senar e outros parceiros, e envolve desde testes físico-químicos até o desenvolvimento de filmes e protótipos de embalagem. Os primeiros resultados são promissores.

Mas o impacto vai além da ciência: trata-se de uma resposta concreta ao acúmulo de lixo plástico nos oceanos. De acordo com a ONU, 85% dos resíduos encontrados no mar são plásticos, e até 2040 esse número pode atingir 37 milhões de toneladas por ano. No Brasil, mais de 3 milhões de toneladas têm potencial de poluir o meio ambiente anualmente. E a foz dos rios amazônicos é uma das regiões mais afetadas.

Estudos da própria UFPA mostram que 98% dos peixes analisados na Amazônia já apresentam microplásticos no organismo. “É uma situação crítica. Esse projeto mostra que dá para usar o que temos de sobra aqui, como caroço de açaí e mandioca, para criar soluções reais e acessíveis”, diz José de Arimateia.

Além de contribuir com o meio ambiente, a iniciativa também tem papel importante na formação de novos cientistas. Até agora, mais de 20 estudantes de graduação e pós-graduação já passaram pelo projeto, que hoje é considerado um dos polos de pesquisa de excelência na região.

Com a COP 30 batendo à porta, Belém se prepara para receber olhares do mundo inteiro, e projetos como esse mostram que a Amazônia não é só o palco da crise climática, mas também um celeiro de soluções.

Com informações da Agência Pará