Primeiro dia da COP30: no Parque do MPEG, “Casa Goeldi” arrecada R$ 4,8 milhões
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No primeiro dia da COP30, uma boa notícia: foram arrecadados R$ 4.816.786,23 para restaurar a casa onde viveu o suíço Emílio Goeldi, localizada no Parque Zoobotânico da unidade de pesquisa que recebe o nome do naturalista, vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Diretor da instituição em 1894, Goeldi habitou a construção que tem arquitetura no estilo “rocinha”, onde também morou os ex-diretores Jacques Huber e Emília Snethlage, no século XIX. O projeto de restauro e a captação de recursos em andamento são frutos da parceria firmada oficialmente, nesta segunda-feira (10/11), entre o Museu Goeldi, a Embaixada da Suíça, o Estado do Pará e o Instituto Peabiru, durante um evento de mobilização de recursos que reuniu doadores confirmados e potenciais apoiadores.>
A atividade foi realizada no Chalé João Batista de Sá, que se transformou na Planetary Embassy, o espaço da “Presença Suíça” no evento global das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, em Belém. O diretor do Museu Goeldi, Nilson Gabas Júnior, disse que as negociações com a Embaixada da Suíça foram iniciadas há dois anos e chamou o momento em que passa o MPEG de “reposicionamento histórico”. Para ele, o mais importante é ressaltar a utilidade que a Casa Goeldi terá no futuro. “A restauração desta casa visa atender diretamente às necessidades das comunidades tradicionais. Estamos numa COP que busca a conexão com os povos da Amazônia. E este será um espaço cultural, um espaço científico, um espaço de desenvolvimento para aprender e ensinar, para que se possa dialogar, porque o mundo precisa de mais diálogo, de mais entendimento”, explicou Nilson Gabas, enaltecendo a forma indígena de liderar. “É uma liderança que se dá pela generosidade”.>
Legado completo e duradouro - É com a generosidade das instituições privadas que o embaixador da Suíça no Brasil, Hanspeter Mock, busca contar nos próximos meses, para viabilizar a conclusão do projeto de restauro da Casa Goeldi. “Para realizar esse projeto ambicioso, já contamos com o apoio financeiro de empresas suíças e brasileiras. Mas precisamos de mais apoio. Especialmente do apoio do setor privado suíço e brasileiro aqui representado”, frisou o embaixador, se dizendo esperançoso de contabilizar novas doações a partir do evento desta manhã promovido pela Embaixada da Suíça. “Quero expressar a esperança sincera de que muitos de vocês decidam apoiar este magnífico projeto. Longe de ser um sonho, constituirá um legado concreto e duradouro da nossa participação conjunta na COP30, em Belém do Pará”.>
Representando o Estado do Pará, a secretária de Cultura, Úrsula Vidal, reforçou a importância do legado científico do Museu Goeldi e a presença do Parque Zoobotânico na memória afetiva do povo paraense que atravessa gerações. Ela também mencionou a influência internacional do MPEG, com a produção de pesquisas em cooperação com outros países e enfatizou o valor da biodiversidade amazônica. “Eu tenho memória de infância neste lugar; a minha mãe, meus filhos também têm. É aqui que a gente mergulha na experiência vivíssima de uma biodiversidade conservada no coração de uma cidade que cresceu sem compreender a sua vocação de cidade ribeirinha, de cidade amazônica, ainda que metrópole, uma cidade histórica, também muito voltada para pesquisa, onde essa biodiversidade precisa ser um ativo para nós, no sentido da identidade, não só um ativo para o crédito de carbono, mas para a conservação ambiental”, ressaltou.>
50% dos recursos necessários – Diretor do Instituto Peabiru, João Meirelles falou sobre o processo de captação de recursos e apresentou o plano para a execução das obras. De acordo com ele, ainda não há um valor financeiro fechado para a restauração. “O que nós temos até agora é aproximadamente 50% dos recursos necessários”, arriscou dizer. “Só vamos ter o custo total quando todos os projetos de restauro forem aprovados. Sou captador profissional de recursos há 40 anos. Então, acho que com até R$ 8 milhões conseguimos executar esse trabalho”, anunciou. Até agora, já contribuíram com as doações: Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Banco UBS, Fundação Ameropa, EBP, Fundação MSC e Secretaria de Cultura do Estado do Pará (Secult).>
João Meirelles informou ainda que, até dezembro, haverá a entrega do projeto executivo, a definição orçamentária e o licenciamento das obras. Já no decorrer de 2026, estão previstas a contratação de empresas especializadas, a gestão e a supervisão dos trabalhos, o acompanhamento da regularização das licenças obtidas, a definição do design interno e da decoração, a elaboração da agenda de eventos e do modelo de governança, entre outras etapas até a entrega da Casa Goeldi, na comemoração dos 160 anos do Museu.>
Projeto tem duas dimensões – O projeto de restauração da Casa Goeldi foi concebido pelo escritório suíço Herzog & de Meuron, com o apoio do Instituto Pedra, representado, no café da manhã, pelo diretor Luiz Fernando Almeida. “A gente tem duas dimensões nesse processo: uma dimensão técnica, material, com a edificação que será recuperada; e uma outra dimensão, talvez mais importante, que é a simbólica. A recuperação do patrimônio é dar sentido histórico para os nossos usos no presente, projetando também o que vai ser nosso futuro”, disse ele.>
A solenidade incluiu a assinatura do memorando de entendimento entre Estado do Pará, Museu Goeldi, Embaixada da Suíça e Instituto Peabiru, e do acordo de Cooperação Técnica entre a Secretaria de Cultura do Estado do Pará e o Museu Goeldi. No final da cerimônia, as pessoas presentes foram convidadas a circular ao redor da Casa Goeldi para apreciar o mural sobre o legado suíço na pesquisa amazônica. A instalação pode ser visitada durante a COP30, no Parque Zoobotânico, que está com a entrada gratuita até o dia 21.>
ESTAÇÃO AMAZÔNIA SEMPRE”: Consórcio Brasil-Noruega conecta ciência e soluções para a crise climática>
Os eventos da “Estação Amazônia para Sempre”, que tiveram início no último sábado no Parque Zoobotânico do MPEG, têm reunido representantes da indústria, da academia e de instituições públicas e privadas, entre outros organismos. O primeiro de um total de 10 encontros realizados somente nesta segunda-feira (10/11) reforçou que a preservação da Amazônia depende da cooperação entre diversos setores. O painel “Ciência que conecta: soluções para a crise climática a partir da biodiversidade amazônica” foi organizado pelo Consórcio de Pesquisa em Biodiversidade Brasil-Noruega (BRC).>
O evento destacou a importância da cooperação para a conservação e o uso sustentável do bioma e marcou mais um capítulo da parceria estratégica entre o Museu Goeldi e o BRC, consolidando avanços científicos e ações concretas em prol da preservação ecológica da região. Ao unir conhecimento acadêmico e soluções práticas, o Museu Goeldi e o BRC mostram que é possível proteger a biodiversidade, restaurar ecossistemas e formar uma nova geração de cientistas comprometidos com o futuro da região.>
Com mais de uma década de atuação, o Consórcio já produziu mais de 200 mil registros de fauna e flora, identificou mais de 300 espécies de mamíferos e aves e mais de 460 espécies de invertebrados. Na avaliação das instituições envolvidas, essa atuação gera dados, soluções e impactos que contribuem diretamente para a preservação da biodiversidade e para a recuperação de ecossistemas degradados.>
Colaboração relevante – A pesquisadora Marlúcia Martins, coordenadora de Pesquisa do Museu Goeldi e integrante da diretoria do BRC, ressaltou a relevância dessa colaboração.“Esse consórcio, que já tem mais de 11 anos de existência, reúne o Museu Goeldi, a Universidade de Oslo, a Hydro, a Ufra e a UFPA. É um consórcio de pesquisa sobre biodiversidade, principalmente, voltado à restauração dos ecossistemas após mineração de bauxita, que é a atividade da Hydro, em Paragominas. Ao longo desses anos, temos desenvolvido diversas pesquisas e contribuído para a formação de estudantes de graduação, mestrado e doutorado”, destacou.>
A pesquisadora do Museu Goeldi também ressaltou o caráter inovador do modelo de cooperação entre indústria e academia. “Considero esse modelo muito bem-sucedido, porque ele garante a independência das pesquisas e das publicações, ao mesmo tempo em que atende a demandas específicas da indústria. Isso é muito importante na formação dos novos cientistas, que aprendem desde cedo a dialogar com a realidade amazônica e com os desafios da restauração ambiental”, afirmou.>
Durante o evento, Ana Cristina Mendes de Oliveira, professora da Universidade Federal do Pará (UFPA) e diretora do Comitê Científico do BRC, apresentou a trajetória e os resultados do consórcio.“O BRC nasceu em 2013 e, ao longo de mais de 12 anos, vem desenvolvendo projetos que favorecem a biodiversidade amazônica, gerando conhecimento para sua conservação e contribuindo com soluções para a crise climática na região”, explicou.>