‘Priorizar melhorias ambientais significa garantia de direitos humanos’, diz enviada especial da COP30

Médica e diretora-executiva da Anistia Internacional Brasil, fala sobre saúde e medidas para população negra e periférica diante das mudanças do clima.

Publicado em 30 de setembro de 2025 às 09:17

Jurema Werneck é Enviada Especial com foco em Igualdade Racial e Periferias.
Jurema Werneck é Enviada Especial com foco em Igualdade Racial e Periferias. Crédito: João Laet

A COP30, que será realizada de 10 a 21 de novembro em Belém, conta com 29 Enviados Especiais, que apoiam no engajamento e escuta de setores e regiões prioritárias para o sucesso da conferência. Ao todo, são sete representantes internacionais e 22 nacionais, que também funcionam como canal direto para apresentar demandas e pedidos à Presidência da COP30.

Em uma série especial, os Enviados e Enviadas compartilham sobre a atuação como interlocutores no fluxo de informações e percepções das áreas que representam. Para o primeiro episódio, a médica, doutora em Comunicação e diretora executiva da Anistia Internacional Brasil, Jurema Werneck, conta como priorizar as ações de melhorias ambientais também significa garantir os direitos humanos.

Sendo a Enviada Especial com foco em igualdade racial e periferias, Jurema lembra que as mulheres negras são a maioria da população e são diretamente afetadas pela mudança do clima. “É preciso dirigir as políticas públicas nessa direção, priorizar as ações de melhoria ambiental; isso significa garantir direitos humanos básicos a essas populações”, disse.

Também cofundadora da rede Criola, organização para mulheres negras, e da Articulação das Organizações de Mulheres Negras Brasileiras, Jurema lembra que a mudança do clima põe em risco a segurança alimentar das famílias brasileiras, que são, majoritariamente, chefiadas por mulheres. “Um grande esforço do governo do Brasil nesse período é garantir o direito à segurança alimentar. A maioria da população de mulheres negras vive em insegurança alimentar e tem que fazer o manejo da insegurança alimentar dentro da sua família e na sua comunidade. É preciso direcionar medidas para isso”, afirma.

Saúde e mudança do clima

A relação entre saúde e mudança do clima nunca foi tão evidente. Com o aumento de eventos extremos, como ondas de calor, enchentes e secas prolongadas, os sistemas de saúde em todo o mundo enfrentam desafios. A mudança do clima está associada ao aumento da ocorrência e expansão de diversos tipos de doenças, tanto infecciosas quanto não infecciosas, como as doenças transmitidas por vetores, como dengue, febre-amarela e malária.

A médica e pesquisadora exemplifica que como o calor é um fator de adoecimento e morte, além de disparar e agravar problemas de saúde já existentes. “Quando atuava como médica do município do Rio de Janeiro, cheguei a realizar algumas ações no Complexo de Favelas da Maré, que fica em uma área cercada por rodovias — a Avenida Brasil e a Linha Vermelha —, com pouquíssima arborização, ocupada quase só por concreto, asfalto e telhas de amianto. Por isso, havia ali um alto índice de doenças respiratórias, por exemplo."

Mutirão Global

Jurema Werneck também destacou a importância da participação social para a COP30. Segundo ela, a mobilização das pessoas, grupos, coletivos e povos é importante para a realização do evento. “As autoridades representantes precisam ouvir as populações e os povos”.

Ela lembra que o mutirão se trata de uma iniciativa para articular organizações da sociedade civil, comunidades locais e atores diversos para implementar ações climáticas concretas nos territórios, indo além das negociações oficiais.

"Afinal somos nós que lidamos com essas situações no dia a dia. Quando chove demais ou de menos, quando pega fogo, secas ou tempestades de poeira, somos nós que temos que enfrentá-las, em nossas casas, nas nossas ruas e no nosso trabalho”, destaca Jurema Werneck.

Enviados Especiais

A Presidência da COP selecionou 29 Enviados Especiais que apoiarão no engajamento e na escuta de setores e regiões prioritárias para o sucesso da conferência. Os Enviados, que atuam voluntariamente e em caráter pessoal, foram escolhidos por serem atores de relevância e credenciados em suas respectivas áreas. Ao todo, são sete enviados internacionais e 22 enviados nacionais.

Eles representam um dos interlocutores para o fluxo de informações e percepções das áreas que representam, o que permitirá que as interações ocorram de forma mais rápida e eficaz. Também funcionarão como canal direto para apresentar demandas e pedidos para a Presidência da COP30, atuando como ponto de contato com os setores e regiões.

E Werneck explica que um dos aspectos do papel de ser uma Enviada é contribuir para que as pessoas possam entender o que está acontecendo no âmbito da conferência. “Por outro lado, os líderes, diplomatas e os representantes das nações, nem sempre, sabem ao certo o que as populações estão experimentando, vivendo e esperando deles como agentes públicos. Então, também essa é a minha expectativa, poder contribuir para que eles também saibam”, disse.