Sociobioeconomia ganha força na COP30 e é apontada como novo modelo econômico para o Brasil e o mundo

Especialistas e gestores defendem políticas públicas, crédito e adaptação do mercado para destravar cadeias produtivas na Amazônia e impulsionar negócios que mantêm a floresta em pé

Publicado em 12 de novembro de 2025 às 15:08

Especialistas e gestores defendem políticas públicas, crédito e adaptação do mercado para destravar cadeias produtivas na Amazônia e impulsionar negócios que mantêm a floresta em pé
Especialistas e gestores defendem políticas públicas, crédito e adaptação do mercado para destravar cadeias produtivas na Amazônia e impulsionar negócios que mantêm a floresta em pé Crédito: Diuvlgação

A sociobioeconomia dominou os debates de terça-feira (11) no espaço do Banco da Amazônia, na Green Zone da COP30, em Belém. No painel “Bioeconomia, conservação da natureza e resiliência climática: vetores de transformação sustentável”, seguido da mesa-redonda “Como escalar cadeias produtivas na Amazônia?”, representantes do governo federal, de organizações da Amazônia e do setor financeiro foram diretos: a Amazônia pode ser o laboratório global de um novo modelo econômico. Mas isso só vai acontecer se políticas públicas, crédito e mercado caminharem juntos.

William Saab, coordenador-geral de Desenvolvimento da Bioeconomia do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, afirmou que o país está iniciando um ciclo decisivo. “A gente tem uma série de anúncios aqui na COP30. É um caminho inicial. Hoje lançamos o Plano Nacional de Desenvolvimento da Bioeconomia, a Taxonomia Sustentável Brasileira e o programa Prospera Sócio Bio. A política pública orienta e induz a atuação de entes públicos e privados”, disse.

Para ele, o protagonismo de Belém pode impulsionar negócios comunitários e consolidar a Amazônia e o Brasil como referência global. “A Amazônia é protagonista dessa agenda não só para o restante do Brasil, mas para o mundo.”

Marcelo Behar, enviado especial da Bioeconomia na COP30, reforçou que a sociobioeconomia é central para o futuro das negociações climáticas. “Ela junta redução de emissões, geração de riqueza e manutenção da atividade econômica. Precisamos produzir a partir dos recursos da floresta e não contra ela”, destacou.

Segundo ele, “o Brasil tem tudo para ser o novo agente de transformação da economia global por ter as soluções para descarbonizar e para recompor áreas degradadas. Mas é essencial colocar as pessoas dentro dessa agenda”, enfatizou.

Do lado dos empreendedores amazônicos, o recado foi direto: sem um sistema financeiro que entenda o território, não há escala possível. Representantes da Associação dos Negócios de Sociobioeconomia da Amazônia (ASSOBIO) defenderam mecanismos de financiamento adequados à realidade de quem vive e produz na floresta.

Para Paulo Reis, presidente da ASSOBIO, qualquer avanço precisa respeitar as particularidades da região. “A Amazônia tem tempos, distâncias e lógicas próprias. Não dá para pedir dos pequenos empreendedores um padrão que o mercado financeiro criou para outro Brasil. Queremos políticas que reconheçam o valor da floresta e o trabalho de quem gera renda dentro dela”, afirmou.

Ele reforçou que negócios comunitários não conseguem chegar à escala sem apoio robusto e contínuo. “Se o país quer uma nova economia verde, precisa garantir que esse ecossistema tenha condições reais de competir”, enfatizou.

O debate também abordou a necessidade de adaptação das empresas e instituições financeiras. “É fundamental que o mercado se ajuste à nova realidade. A resiliência climática tem sido cobrada das comunidades tradicionais, mas precisamos que o outro lado também se mova. Temos que promover uma mudança em questões tributárias, exigências de crédito e métricas de risco que ainda são incompatíveis com a dinâmica amazônica”, destacou Ligia Tatto, sócia-diretora da Urucuna, que produz velas naturais artesanais, em parceria com povos tradicionais e indígenas da Amazônia.

Em todas as narrativas, a principal convergência foi de que a sociobioeconomia não é mais um conceito aspiracional na COP. É um projeto econômico em disputa, com potencial de transformar a região e influenciar modelos globais. Mas depende de decisões práticas: crédito acessível, políticas de longo prazo e reconhecimento do papel das comunidades que mantêm a floresta viva.