A adultização tem impacto direto no desenvolvimento das crianças Crédito: Imagem: Zoteva | Shutterstock
A adultização e a exploração de crianças na internet ganharam destaque nos últimos dias, após uma denúncia em vídeo feita pelo influenciador Felipe Bressanim Pereira, o Felca. >
“Cada vez mais vemos crianças vestidas, maquiadas ou expostas em situações que não condizem com a fase da vida delas. Esse fenômeno, chamado de adultização, não é inofensivo: ele pode comprometer o desenvolvimento emocional e aumentar a vulnerabilidade para traumas no futuro”, alerta Maíra Roazzi, psicóloga especialista em trauma e desenvolvimento infantil. >
O que é adultização das crianças?
A adultização é o processo pelo qual a criança passa a ser tratada como mais madura do que realmente é, sendo exposta, incentivada ou pressionada a adotar comportamentos, conhecimentos ou aparências típicos de adultos, antes de estar emocional e cognitivamente preparada para isso. >
Principais manifestações
Sexualização precoce: manifesta-se no uso de roupas, poses e maquiagens com conotação adulta, além da exposição a conteúdos digitais que não são adequados para a idade;
Exposição prematura a conhecimentos adultos: presenciar discussões conjugais, conversas sobre sexualidade sem preparo adequado, violência doméstica ou social, ou conteúdos midiáticos impróprios para a idade;
Pressões estéticas e de performance: busca pelo corpo “ideal”, comparações em redes sociais, exigências acadêmicas desproporcionais, competitividade excessiva;
Expectativas comportamentais inadequadas: exigir autocontrole emocional de adulto, assumir que a criança “deveria saber” sobre temas complexos, negar proteções típicas da infância.
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A psicóloga Maíra Roazzi alerta para os impactos psicológicos que a adultização pode trazer para os pequenos. “A adultização interfere diretamente no processo natural de desenvolvimento emocional e social da criança. “Quando uma criança é forçada a ‘crescer’ antes da hora, ela perde etapas fundamentais de formação da personalidade e da autoestima”, complementa. >
A adultização pode desencadear ansiedade e depressão nas crianças Crédito: Imagem: Yuriy2012 | Shutterstock
Consequências da adultização das crianças
Confusão de papéis: a criança perde a referência de sua posição no desenvolvimento, internalizando expectativas inadequadas para sua faixa etária;
Maior vulnerabilidade a abusos: especialmente quando há sexualização precoce ou negação das proteções naturais da infância;
Impactos acadêmicos e sociais: desengajamento escolar, isolamento social, maior probabilidade de envolvimento com sistema de justiça juvenil.
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Desenvolvimento de problemas de saúde mental
Ansiedade e depressão precoce;
Baixa autoestima e distorção da autoimagem corporal;
Dificuldade para estabelecer limites pessoais;
Comportamentos de risco na adolescência;
Problemas de relacionamento na vida adulta.
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Como evitar a adultização
A psicóloga destaca a importância de prevenir o problema. “É fundamental resgatar o direito de ser criança. Isso significa priorizar brincadeiras, convivência com pares da mesma idade e atividades lúdicas apropriadas para cada fase do desenvolvimento”, orienta Maíra Roazzi. >
Recomendações para pais e cuidadores:
Proteção digital: limitar a exposição a conteúdos inadequados e monitorar uso de redes sociais;
Respeito ao desenvolvimento: reconhecer e respeitar o ritmo natural de crescimento emocional, social e físico da criança;
Comunicação adequada: abordar temas complexos de forma apropriada para a idade, sem sobrecarregar emocionalmente;
Preservação da infância: garantir tempo e espaço para atividades lúdicas, criativas e espontâneas;
Busca por ajuda: procurar acompanhamento profissional ao identificar sinais como ansiedade excessiva, comportamentos sexualizados precocemente, regressões no desenvolvimento ou verbalização inadequada sobre temas adultos.