Mensagens revelam últimos momentos de integrante da facção na linha de frente em megaoperação

Mensagens trocadas pela Penélope (Japinha do CV) durante ação nos complexos pintam o cenário de tensão antes de sua morte.

Publicado em 30 de outubro de 2025 às 10:37

Comunicação revela últimos instantes de integrante da facção na linha de frente em megaoperação
Comunicação revela últimos instantes de integrante da facção na linha de frente em megaoperação Crédito: Reprodução/Redes Sociais

Quando os tiros já cortavam o ar nas comunidades cariocas, Penélope, apelidada de “Japinha do CV”, usou o celular para mandar um simples “oi” pelo WhatsApp, foi a deixa de uma chamada de vídeo que durou cerca de três minutos. Em seguida, escreveu: “Oi. Não vamos ficar aqui, não”. A interlocutora pergunta: “Acabou a operação já?”, e Penélope responde: “Não. Eles tão aqui em cima de nós. A bala tá comendo. Helicóptero tá aqui rodando”. A amiga, visivelmente preocupada, suplica: “Fica onde você tá, para de maluquice. Tá seguro aí?”.

Pouco tempo após essa troca de mensagens, Penélope faleceu em um violento confronto nos 26 territórios que pertencem aos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro, a terça-feira (28/10).

Conhecida como “musa do crime” nas redes sociais, Penélope havia sido fotografada dias antes da ação vestindo roupas táticas, empunhando um fuzil e com o rosto coberto, um retrato de ostentação do grau de envolvimento que tinha na hierarquia da Comando Vermelho. Fontes ligadas à coluna “Na Mira” indicam que ela exercia funções centrais: escolta de rotas de fuga e defesa de pontos estratégicos de venda de entorpecentes.

Durante a operação, considerada uma das mais letais já vistas no estado, foram localizadas túneis e passagens entre casas e muros, estruturas usadas para fugas e manobras de combate, lembrando táticas empregadas em 2010 em incursões no Alemão.

Velada pelas redes sociais, a família da jovem se manifestou nesta quinta-feira (30), pedindo respeito: solicitou que quaisquer imagens do corpo de Penélope não sejam divulgadas, apontando o profundo sofrimento causado pela repercussão de sua morte. Em um story no Instagram, a irmã dela agradeceu “a todos que estão mandando carinho e força” aos familiares da “musa do crime”. Em paralelo, no X (antigo Twitter), um perfil lamentou a perda, afirmando que “ela fará muita falta” e chamando-a de “uma menina linda, inteligente e incrível”.

Informações oficiais da operação registram que o corpo da funcionária da facção foi encontrado próximo a um dos acessos principais das comunidades, após um intenso tiroteio. Relatos indicam que ela resistiu à abordagem, abriu fogo contra agentes e foi atingida por um disparo de fuzil que lhe atingiu mortalmente a cabeça. No momento do confronto, estava equipada com roupas camufladas e colete tático, o que reforça que sua participação na linha de frente não era simbólica, mas de fato ativa.

O cenário revela uma facção que elevou seu grau de armar-se e estruturar-se como milícia, e uma ação do estado que, segundo o próprio governo, envolveu cerca de 2,5 mil agentes e resultou em mais de 100 mortos, 115 deles apontados como “integrantes” da facção, segundo o poder público.

Enquanto isso, a tragédia pessoal de Penélope ilustra não apenas o uso da violência no crime organizado, mas também o papel de jovens mulheres dentro dessas organizações e a exposição que isso traz, digital e mortal. A troca de mensagens mostra o momento humano por trás do dispositivo de poder e de combate: medo, comunicação rápida, tática e o silêncio final.

A série de acontecimentos deixa um recado duro sobre o confronto cotidiano entre o estado e o crime nas favelas, e sobre os custos humanos dessa guerra urbana prolongada.