Caso BBF: autos do processo de recuperação judicial revelam que grupo operava sob modelo de caixa único

Manifestações apresentadas pela própria empresa, sob orientação de um novo representante jurídico, indicam graves falhas estruturais e suspeitas de irregularidades contábeis

Publicado em 23 de outubro de 2025 às 00:07

Um dos Centros de Operação da BBF no Pará.
Um dos Centros de Operação da BBF no Pará. Crédito:  Divulgação/DINO

Mais um capitulo da novela judicial envolvendo a Brasil Bio Fuels (BBF S/A), veio à tona nos últimos dias escancarando uma confusão patrimonial, que afunda ainda mais a credibilidade da empresa cuja falência foi decretada pela Justiça do Pará, no mês passado.

Após a sentença de falência, o Grupo se mobiliza para um processo de recuperação judicial e um administrador judicial foi nomeado para assumir o controle da companhia, organizar a lista de credores e coordenar a arrecadação de ativos, para tentar amenizar a crise.

Mas segundo fontes relataram, uma petição protocolada na 12ª Vara Cível e Empresarial de Belém, com as manifestações apresentadas pela própria empresa, sob orientação de um novo representante jurídico, demonstraram graves falhas estruturais e levantaram sérias suspeitas sobre possíveis irregularidades contábeis e desvio de finalidade.

Nas manifestações, a defesa da companhia admitiu de forma implícita a existência de uma confusão patrimonial sistêmica entre as diversas empresas do grupo. Nos documentos, a BBF reconhece operar sob o modelo de “caixa único”, em que receitas e despesas transitam sem distinção entre as sociedades controladas, uma prática que viola o princípio da autonomia contábil e pode configurar mistura indevida de patrimônios.

Fontes próximas ao processo afirmam que a ausência de controle individualizado dos balanços máscara passivos, distorce resultados e dificulta o trabalho do novo administrador judicial, responsável por zelar pela regularidade da recuperação.

O episódio também prejudicou ainda mais a credibilidade do grupo, já alvo de questionamentos sobre falta de transparência e desorganização financeira, já que segundo especialistas que acompanham o caso, as manifestações da empresa, assinadas por seu novo advogado, configuram “uma confissão pública de colapso administrativo”, e que o caso teria fortes elementos de “uma recuperação judicial de fachada, usada não para reerguer a atividade produtiva, mas para blindar o patrimônio dos sócios sob o pretexto da reestruturação”.

Agora o caso que era tido como um processo discreto transformou-se em um escândalo jurídico-financeiro, reacendendo o debate sobre o uso da recuperação judicial como instrumento de blindagem patrimonial.