Publicado em 18 de setembro de 2025 às 18:36
O triplo assassinato da família Buchinger, ocorrido em Altamira, sudoeste do Pará, completa uma década em 2026 sem que os acusados tenham sido julgados no Tribunal do Júri. O caso expõe a morosidade do sistema judicial brasileiro e levanta questionamentos sobre impunidade, mesmo diante de evidências concretas.>
Os fatos>
Na madrugada de 6 de janeiro de 2016, a residência da família Buchinger, que também funcionava como loja — a Kiara Modas, boutique de roupas localizada na Rua Anchieta, bairro Sudam I —, foi palco de um crime brutal. Luiz Alves Pereira, Irma Buchinger Alves e Ambrósio Buchinger Neto foram assassinados por asfixia. Investigadores apontam que cadarços foram usados para estrangular as vítimas, enquanto suas bocas foram lacradas com fita adesiva.>
No mesmo local, os filhos Henrique e Chiara Buchinger Alves estavam trancados. Após a ação, conseguiram escapar pulando pela janela do banheiro e acionando a polícia. Nada de valor foi levado, reforçando que a motivação não foi financeira, mas sim pessoal e planejada.>
Motivação do crime>
Segundo as investigações, Henrique Buchinger Alves seria o mandante do crime, contratando os assassinos com promessa de pagamento de R$ 40 mil. O objetivo era eliminar os pais e o irmão Ambrósio, enquanto Chiara foi poupada e mantida como álibi para Henrique.>
O crime foi considerado homicídio triplamente qualificado, com elementos de frieza, meio cruel (asfixia) e promessa de recompensa, indicando que se tratou de um planejamento premeditado.>
Envolvidos e denúncias>
Mandante:>
• Henrique Buchinger Alves>
Executores:>
• Matheus de Oliveira Costa (“Mathezinho”) >
• Anderson Góes Moraes (“Galego”)>
• Aguinaldo Soares de Brito (“Andrade”)>
• Francisco Denis de Oliveira Leite>
• Renato Silva e Silva>
• Maycom Irlan Paiva de Souza (“Rato”)>
Além do homicídio, os executores foram denunciados por roubo triplamente qualificado, referente a pertences de Chiara. >
Prisões, liberdade e morosidade judicial>
Após o crime, prisões temporárias foram decretadas, e Henrique foi detido em Goiânia em 20 de janeiro de 2016, sendo transferido ao Pará.>
Em junho de 2018, o então ministro Marco Aurélio Mello, do STF, concedeu habeas corpus liminar, alegando prisão preventiva por tempo excessivo (mais de dois anos), beneficiando também os outros seis acusados.>
O Ministério Público recorreu, alertando que a liberação poderia prejudicar a instrução criminal, influenciar depoimentos e comprometer a coleta de provas. Anteriormente, em março de 2017, o STF, por meio do ministro Edson Fachin, havia negado seguimento ao habeas corpus de Henrique, mantendo sua prisão preventiva com base em interceptações telefônicas, buscas e depoimentos.>
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) pronunciou Henrique e os demais réus como acusados de homicídio triplamente qualificado, habilitando o processo para o Tribunal do Júri, mas a tramitação judicial ainda não chegou à fase de julgamento.>
Reações e recursos>
O Procurador-Geral do Pará recorreu, apontando risco à instrução criminal e possibilidade de interferência em depoimentos.>
Em março de 2017, o STF, por meio do ministro Edson Fachin, negou seguimento a HC impetrado para Henrique, mantendo a prisão preventiva baseada em provas como interceptações telefônicas, buscas e depoimentos.>
Pronúncia e conexão de crimes>
Em decisão judicial posterior, o STJ pronunciou Henrique e os demais como réus por homicídio triplamente qualificado (com elementos como promessa de recompensa, asfixia e recurso que dificultou defesa) e, além disso, os outros três executores também foram pronunciados por roubo triplamente qualificado (em razão do celular de Chiara), o que os sujeita ao Tribunal do Júri.>
Impacto e repercussão>
Apesar de provas robustas, como interceptações, confissões e laudos periciais, nenhum acusado foi julgado. Essa demora gera sensação de impunidade e afeta a confiança pública no sistema judicial, especialmente em casos de alta repercussão e brutalidade.>
Familiares e advogados apontam que a lentidão processual impede a reparação simbólica e material às vítimas. Para a sociedade, o caso se tornou um símbolo das fragilidades da Justiça criminal brasileira.>
A vida depois das mortes>
Hoje, Henrique e Chiara seguem morando em Altamira e vivem de forma discreta e simples, distantes do padrão de vida de classe média alta que possuíam antes do crime que chocou a cidade.>
Chiara, atualmente estudante de Psicologia em uma faculdade particular, tenta manter uma rotina acadêmica, além de cuidar da loja “Kiara Modas” que pertencia a Irma Buchinger (mãe). Em uma rede social, a jovem exibe diversos clicks em viagens internacionais como Chile e Suíça.>
Já Henrique atua como fisioterapeuta em atendimentos domiciliares. Apesar da vida aparentemente comum, a memória do triplo homicídio ainda acompanha os irmãos, e a população local apelidou Henrique de "Suzane de Altamira", em referência a outro caso de repercussão nacional envolvendo a filha como a mandantes do assassinato dos pais.>
Henrique chegou a ser servidor público da Prefeitura Municipal de Altamira, contratado como fisioterapeuta pelo Fundo Municipal de Saúde, em contrato com prazo determinado entre 6 de maio e 31 de dezembro de 2024. A vida dos dois, no entanto, permanece marcada pela controvérsia e pelo julgamento moral da sociedade, que acompanha atentamente cada passo do caso que completa dez anos sem julgamento no Tribunal do Júri.>