Jovem autista tem 17 dentes extraídos sem autorização durante procedimento no CIIR, em Belém

Família acusa o CIIR, em Belém, de realizar extração dentária sem autorização durante procedimento em jovem autista de 19 anos; caso gerou comoção e pedidos de justiça.

Publicado em 17 de junho de 2025 às 14:55

(Jovem autista tem 17 dentes extraídos sem autorização durante procedimento no CIIR, em Belém)
(Jovem autista tem 17 dentes extraídos sem autorização durante procedimento no CIIR, em Belém) Crédito: Pedro Guerreiro / Ag. Pará - Arquivo Pessoal

Uma jovem autista de 19 anos teve todos os 17 dentes extraídos durante um procedimento odontológico no Centro Integrado de Inclusão e Reabilitação (CIIR), em Belém, gerando revolta e comoção entre os familiares. A denúncia foi feita pela irmã de Juliana — como foi identificada a paciente — que classificou o caso como um ato de negligência odontológica e até mesmo criminoso.

Segundo o relato da família, Juliana fazia acompanhamento odontológico no CIIR há anos. Na última segunda-feira (17), ela foi encaminhada ao bloco cirúrgico para realizar um procedimento de rotina: limpeza e restauração dentária. No entanto, ao sair da cirurgia, a jovem estava com todos os dentes removidos, sem que a mãe, que a acompanhava no local, tivesse sido informada ou consultada sobre a decisão médica. “Minha irmã entrou para uma limpeza e restauração. Quando saiu, estava sem os 17 dentes da boca”, relatou a irmã da jovem. “Ela saiu traumatizada. E nós, como família, também”.

A irmã explicou que Juliana é autista do grau 3, classificado como severo, e que o procedimento só seria possível com sedação total — o que já havia sido feito em outras ocasiões, sempre sem intercorrências.“A minha irmã é autista do nível grau 3, que é um grau severo, e para ela fazer qualquer procedimento na boca, no dente, ela precisaria ser sedada. Por isso, ela entrou para o bloco cirúrgico. Ela precisou de sedação total e já havia feito isso outras vezes antes. Nunca tivemos nenhum problema com cirurgia”, explicou.

“Foi de 20 dias para cá que tudo mudou, com essa nova equipe de odontologia que entrou lá”, completou.

A família afirma que não recebeu explicações claras por parte da equipe odontológica nem da diretoria do CIIR, que teria impedido que fossem feitas fotos ou que fosse acessado o prontuário médico de Juliana. Ainda de acordo com o relato, a justificativa dada pela direção foi de que esse tipo de procedimento seria “normal” em pacientes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e que já teria sido realizado em outras crianças e adolescentes atendidos no local.

“O dentista ficou de cabeça baixa o tempo inteiro. A diretora apenas dizia que iriam nos ajudar, mas não permitiram nem que a gente visse a quantidade de dentes que tinham sido extraídos”, afirmou a irmã.

A família informou que vai formalizar uma denúncia no Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) para que o caso seja investigado e os responsáveis responsabilizados.

O caso gerou forte repercussão nas redes sociais, exigindo apuração rigorosa dos fatos. Para a família, Juliana foi vítima de uma decisão médica grave, feita sem o consentimento da responsável legal, que agora cobra explicações.

A família afirma que seguirá buscando justiça. “Ela não foi a primeira, mas será a última vítima na mão desses criminosos”, finalizou a irmã.

Nesta segunda, o governador do Pará, Helder Barbalho, se pronunciou nas redes sociais sobre o episódio. Ele classificou a denúncia como grave e determinou o imediato afastamento do profissional envolvido, além da abertura de uma investigação.“Já determinei o imediato afastamento do profissional envolvido e a abertura de uma investigação para esclarecer o caso e punir todos os responsáveis. A prioridade agora é prestar todo apoio à jovem e à sua família”, afirmou o governador.

O CIIR foi procurado pela nossa reportagem, mas ainda não respondeu aos questionamentos enviados até o momento.

Em nota, a Sespa lamenta o ocorrido e informa que o profissional que executou o procedimento foi imediatamente afastado das funções e um processo administrativo foi instaurado para esclarecer o caso e punir todos os responsáveis. A Secretaria vai prestar todo apoio necessário ao jovem e à sua família.

A Polícia Civil informa que foi instaurado inquérito policial na Delegacia de Proteção à Pessoa com Deficiência. A família foi acolhida na noite de ontem (16) e as primeiras diligências já foram realizadas, como requisições de perícias e intimação dos envolvidos.