Publicado em 18 de outubro de 2025 às 10:26
Quem matou Odete Roitman? A pergunta que atravessou gerações voltou a ecoar pelos lares brasileiros ontem (17), no capítulo final do remake de Vale Tudo, na TV Globo. Dessa vez, com uma reviravolta que ninguém esperava (ou esperava?): Odete Roitman está viva! Uma das maiores vilãs da teledramaturgia brasileira, símbolo do sarcasmo elegante e da maldade com taça de champanhe, sobreviveu, e o público, se dividiu nas redes sociais ou nas rodinhas de família e amigos.>
Este noveleiro que vos escreve não errou totalmente sobre o destino de Odete Roitman (basta dar uma lida no artigo anterior). Há cerca de duas semanas, um diálogo entre ela e Freitas já dava pistas de uma possível reviravolta. Na despedida da TCA, Freitas a acompanhou até o elevador e deixou claro que ela poderia contar com ele para qualquer coisa. E foi exatamente isso que aconteceu quando Marco Aurélio atirou nela. Freitas agiu rápido: retirou Odete da ambulância, coordenou uma cirurgia de emergência em uma cabana improvisada e a levou até um helicóptero para sua fuga do país. As cenas arrancaram gargalhadas do público, bem ao estilo de uma tragicomédia.>
“Odete Roitman sempre volta!” foram as últimas palavras da vilã, brilhantemente interpretada por Débora Bloch, antes de deixar o Brasil. O fato é que o remake de Vale Tudo terminou ontem com Manuela Dias entregando o que poucos autores ousariam: deixar viva Odete Roitman sem culpa e sem pudor. Enquanto uns gritaram “absurdo!” nas redes sociais, outros levantaram o copo (ou o celular) e brindaram: “Ela venceu!”.>
E talvez tenha mesmo vencido. Porque, no fundo, Odete é o espelho invertido de um Brasil que aprendeu a amar suas vilãs. A gente não quer ser ela , mas confessa que adoraria ter aquela frieza na hora de lidar com o chefe, um ex, um político, um amigo... Odete disse o que ninguém teve coragem de dizer. E, no remake, ganhou contornos ainda mais humanos, quase cômicos, sem perder o veneno na ponta da língua.>
Há quem diga que Manuela Dias quis dar uma piscadinha para o público: “Vocês gostam mesmo é dela, né?”. E acertou! A maioria do país ficou do lado da mulher que, nos anos 80, era o retrato do mal. De tanto se identificar, o público transformou a vilã em ícone, e diga-se de passagem, Débora Bloch contribuiu muito para isso, e a autora entendeu o recado: em 2025, matar Odete seria matar o prazer do público em vê-la viva e debochada.>
Coadjuvantes>
Que Odete Roitman roubou a cena, ninguém discute. Mas e os outros personagens principais da trama? Maria de Fátima seguiu firme no golpe do baú, e encontrou um fazendeiro rico disposto a cair. A surpresa foi reencontrar César no caminho, num desfecho digno de um “eles se merecem”.>
Já Raquel… de protagonista na versão original a figurante de luxo no remake. A personagem perdeu força, muito por conta das escolhas equivocadas da autora ao longo da trama. Resultado: o público não comprou a jornada da empreendedora. Uma pena, porque Taís Araújo merecia muito mais, muito mais que um casamento bonitinho no último capítulo.>
Marco Aurélio, por sua vez, mesmo depois de desviar milhões da TCA, conseguiu a liberdade, se passando por doente para ficar em prisão domiciliar. Agora desfila por aí com tornozeleira eletrônica, bem ao estilo "jeitinho brasileiro". Qualquer semelhança com a realidade... não é mera coincidência.>
No fim das contas, Vale Tudo encerrou sua nova versão deixando no ar uma provocação deliciosa: talvez, no Brasil de hoje, o vilão não seja quem manipula, mas quem acredita demais. Odete Roitman sobreviveu, e convenhamos, quem é que nunca quis ser um pouquinho Odete quando a vida aperta?>
Por Bruno Magno, jornalista, noveleiro e amante de cinema.>