Cúpula do Clima em Belém: Discurso do presidente Lula repercute entre líderes mundiais, imprensa e ativistas

Líderes de organizações destacam força simbólica do pronunciamento, mas cobram que o Brasil lidere com coerência a transição energética e o fim do desmatamento

Publicado em 6 de novembro de 2025 às 13:21

(Cúpula do Clima em Belém: Discurso do presidente Lula repercute entre líderes mundiais, imprensa e ativistas)
(Cúpula do Clima em Belém: Discurso do presidente Lula repercute entre líderes mundiais, imprensa e ativistas) Crédito: Hermes Caruzo/COP30

O discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na abertura da Cúpula dos Líderes, nesta quinta-feira (6), em Belém, gerou ampla repercussão entre organizações ambientais e especialistas em clima. Embora tenha sido elogiado pela defesa da Amazônia e pela ênfase na justiça social, as falas de Lula também despertaram cobranças por coerência e medidas concretas que transformem o tom político em compromissos reais.

A diretora executiva do Greenpeace Brasil, Carolina Pasquali, classificou o discurso como “forte”, mas afirmou que o sucesso da COP 30 dependerá da capacidade do Brasil de apresentar um plano efetivo para reverter o desmatamento até 2030 e reduzir a dependência dos combustíveis fósseis. “Precisamos de planos concretos, mecanismos de implementação e fontes claras de financiamento”, disse.

Pasquali alertou ainda para contradições entre o discurso e algumas ações do governo. “Seguir insistindo em explorar petróleo na Foz do Amazonas ou atrasar a demarcação de territórios indígenas expõe contradições que não cabem em um momento tão importante. Que as palavras, mas principalmente as ações do Brasil, sejam a injeção de coragem que os demais líderes globais precisam”, completou.

O secretário executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, reforçou que a fala de Lula trouxe exatamente o que a conferência precisa: um “mapa do caminho” para o fim do desmatamento e dos combustíveis fósseis. “O sucesso da COP 30 se dará ao transformar as palavras do presidente brasileiro em resolução final”, destacou.

Na mesma linha, Marta Salomon, especialista sênior do Instituto Talanoa, avaliou que a fala de Lula aumenta a expectativa sobre os resultados da conferência. “Seria a forma de completar o trabalho das duas cúpulas anteriores, em Dubai e Baku”, disse, referindo-se à necessidade de mobilizar recursos e traçar metas globais para uma transição energética justa.

Entre as organizações internacionais, o tom foi semelhante. Ilan Zugman, diretor para a América Latina e o Caribe da 350.org, afirmou que “as palavras do presidente sobre preservar a Amazônia e o poder da mobilização coletiva são verdadeiras – mas precisam ser acompanhadas de coragem”. Ele destacou a contradição entre o discurso e a política de exploração de petróleo. “Esta é, de fato, a ‘COP da verdade’, e essa verdade exige ação: a COP 30 precisa entregar compromissos e prazos concretos para encerrar a expansão dos combustíveis fósseis”, afirmou.

O diretor associado de políticas e campanhas da 350.org, Andreas Sieber, também cobrou coerência. “Lula não pode ser, ao mesmo tempo, uma liderança pela justiça climática e um dos países que mais expandem a produção de petróleo no mundo”, disse, acrescentando que o legado do presidente e a credibilidade da conferência dependerão da capacidade de transformar ambição em resultados.

Já Tatiana Oliveira, líder de estratégia internacional do WWF-Brasil, avaliou o discurso como um sinal positivo para o fortalecimento do chamado “Pacote Natureza”, que busca integrar as convenções globais sobre clima, biodiversidade e desertificação. “A COP 30 pode ser a COP da Natureza, e o mundo não pode perder essa oportunidade”, afirmou.

Entre elogios e cobranças, o consenso entre as entidades é que a fala de Lula marcou o início de uma COP histórica, mas que o verdadeiro teste será a capacidade do Brasil de transformar o discurso em liderança concreta no combate à crise climática.