Estados do Pantanal discutem demandas e prioridades para a COP30

Pre-COP dos Biomas, realizada em Campo Grande, reuniu governos, sociedade civil e especialistas para debater soluções climáticas para o bioma.

Publicado em 2 de outubro de 2025 às 09:39

Participantes da Pre-COP do Pantanal discutem estratégias para integrar clima, biodiversidade e desenvolvimento sustentável.
Participantes da Pre-COP do Pantanal discutem estratégias para integrar clima, biodiversidade e desenvolvimento sustentável. Crédito: Presidência da COP30

Os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul apresentaram as demandas e expectativas do Pantanal para a COP30 durante edição da Pre-COP dos Biomas, realizada em Campo Grande–MS nesta terça-feira (30). A CEO da COP30, Ana Toni, destacou a oportunidade de usar a conferência em Belém para reforçar a conexão entre o clima, a proteção da biodiversidade e o protagonismo de estados e municípios no combate à mudança do clima.

“Vemos aqui no Pantanal os efeitos da mudança do clima, mas temos também uma oportunidade única”, disse a CEO, referindo-se à seca histórica que afetou o bioma de 2019 a 2024, intensificada pela crise climática. “Estamos trabalhando com os governos locais e estaduais para intensificar a sinergia entre as convenções de clima e biodiversidade, que será um dos grandes temas da COP30.”

Além da abertura do evento, a CEO participou de painel sobre o papel dos governos subnacionais ao lado do governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel; do governador do Espírito Santo e presidente do Consórcio Brasil Verde, Renato Casagrande; e do secretário-adjunto de Meio Ambiente do Mato Grosso, Alex Marega. Representantes dos setores público, privado e da academia, entre outros grupos, também participaram do encontro.

A Pre-COP do Pantanal foi organizada pelo Consórcio Brasil Verde, em parceria com o Governo do Mato Grosso do Sul e com o apoio do Centro Brasil no Clima, após convocação da Presidência da COP30. Os eventos devem resultar em um compromisso político conjunto dos estados e no anúncio de um “Banco de Soluções Subnacionais”, que busca consolidar e divulgar experiências bem-sucedidas implementadas nos estados e criar uma base de referência para políticas climáticas eficazes e replicáveis.

“Nós queremos que a COP de Belém seja uma COP da implementação, e nada vai ser implementado se não envolvermos os estados e os municípios”, disse Casagrande. “Estamos em um grande mutirão para que cada estado tenha sua política estadual de mudança do clima, seu plano de descarbonização, seu plano de adaptação, em um grande mutirão para que todos tenham uma ação organizada.”

Na sessão sobre o papel dos governos subnacionais, a CEO destacou que, pela primeira vez, o Brasil pôs em sua contribuição nacionalmente determinada (NDC) o papel da governança subnacional. Reforçar a necessidade de engajamento de estados e municípios de todo o planeta, declarou ela, é essencial para a COP30.

“Espero que a nossa COP cristalize esse lugar de liderança que os governos subnacionais sempre tiveram, mas que não havia um reconhecimento da política global de clima”, disse a CEO.

Ana Toni afirmou também que a COP30 deve ser um momento para o Brasil se apresentar ao mundo como um provedor de soluções climáticas que combinem conservação e prosperidade. Riedel, por sua vez, ressaltou os esforços de seu estado para a conservação e o desenvolvimento sustentável do Pantanal sul-mato-grossense:

“Mato Grosso do Sul tem uma contribuição muito grande ao instituir, numa lei de preservação, que é a lei do Pantanal, um instrumento econômico muito forte através do fundo do clima e dos seus programas de financiamento dos serviços ambientais”, disse Riedel durante o seminário. “Cada estado, cada ambiente vai buscar o seu produto, a sua linha de atuação. Mato Grosso do Sul fez isso. E nós estamos chamando o privado para essa discussão, pois não é uma função exclusiva do público.”

Carta do Pantanal

Durante os debates, foi entregue à CEO da COP30 a Carta do Pantanal, documento apresentado pelo Fórum Sul-Mato-Grossense de Mudanças do Clima que reitera a contribuição do bioma à agenda climática global. Elaborado por representantes de órgãos oficiais, sociedade civil e academia, entre outros, a carta destaca a vulnerabilidade pantaneira à mudança do clima.

“Os impactos das mudanças do clima, materializados em secas severas, enchentes extremas e incêndios de grande escala, somam-se a deficiências de infraestrutura relacionadas à saúde, educação, acesso e saneamento básico, que são resultados de uma construção histórica. Esses fatores comprometem não apenas a conservação ambiental, mas também a qualidade de vida das populações pantaneiras”, diz a carta.

Entre as conclusões, os autores recomendam a elaboração de um Plano Integrado de Desenvolvimento Sustentável do Pantanal que não se limite às fronteiras dos estados que abrigam o bioma. Também apontam a adoção de instrumentos de pagamento por serviços ambientais e de estímulo à bioeconomia e ao turismo, com o fortalecimento da infraestrutura científica e tecnológica para prevenir e responder a eventos extremos.

Pre-COPs dos Biomas

A COP Pantanal foi a terceira da série de conferências climáticas regionais realizadas no Brasil em preparação para a COP30. As duas primeiras ocorreram na Mata Atlântica, em Curitiba, e na Caatinga, em Fortaleza. Outras duas edições já estão programadas para o dia 9 de outubro: a do Cerrado, em Brasília, e a do Pampa, em Porto Alegre.

As Pre-COPs dos Biomas são resultados do esforço coordenado dos consórcios de governadores, que atenderam ao chamado do Mutirão COP30 para construir uma agenda climática nacional a partir das realidades locais. A iniciativa reforça que todos os biomas brasileiros têm voz e protagonismo no enfrentamento da crise climática — e que nenhum deles pode ficar de fora do debate.