Publicado em 22 de novembro de 2025 às 18:37
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, encerrou neste sábado (22) a plenária final da COP30, realizada em Belém, com um discurso que reforçou os avanços obtidos na conferência, reconheceu as limitações do processo e renovou o compromisso do Brasil com a agenda climática global. Marina agradeceu o trabalho da Presidência da COP e do Secretariado da ONU, destacando o “esforço dedicado” para conduzir negociações consideradas complexas e decisivas.>
"Obrigada, senhor presidente.
Excelências, senhoras e senhores,
Hoje, estamos terminando a jornada desta COP30.
Agradeço e parabenizo o Embaixador André, Ana Toni e toda a equipe da Presidência pelo importante e dedicado trabalho de liderança desse complexo processo; e ao Simon e à equipe do Secretariado, pela organização e grandes esforços.
Gostaria de congratular Austrália, Turquia e Etiópia pela decisão deste plenário de que estes países amigos presidirão as COP31 e 32. Junto com meu colega, o Embaixador Maurício Lyrio, e em nome do governo e do povo brasileiro, fazemos os votos de sucesso nesta nobre iniciativa.
Se pudéssemos voltar no tempo e conversar com nós mesmos na Rio-92, o que aquelas versões de nós nos diriam ao olharem para os resultados de hoje?
Certamente nos diriam, antes de tudo, que sonhávamos com muito mais resultados.
Que esperávamos que a virada ambiental seria mais rápida, que a ciência seria suficiente para mover decisões, que a urgência falaria mais alto do que qualquer outro interesse.
E, olhando para o resultado que alcançamos, e para o grande e grave problema que temos a enfrentar, provavelmente repetiríamos as palavras do presidente Lula: “Estou convencido de que, apesar das nossas dificuldades e contradições, precisamos de mapas do caminho para, de forma justa e planejada, reverter o desmatamento, superar a dependência dos combustíveis fósseis e mobilizar os recursos necessários para esses objetivos”.
Em que pese ainda não ter sido possível o consenso para que esse fundamental chamado entrasse nas decisões desta COP30, tenho certeza de que o apoio que recebeu de muitas Partes e da sociedade fortalece o compromisso da atual Presidência de se dedicar para elaborar dois mapas do caminho. Um sobre deter e reverter o desmatamento. Outro, sobre a transição para longe dos combustíveis fósseis de maneira justa, ordenada e equitativa. Ambos serão guiados pela ciência e serão inclusivos.
Senhoras e senhores,
Realizamos esta COP no coração da Amazônia. Demos um passo relevante no reconhecimento do papel de povos indígenas, comunidades tradicionais e afrodescendentes.
Transição justa ganhou corpo e voz na presença desses segmentos.
Lançamos o TFFF, um mecanismo inovador que valoriza aqueles que conservam e mantêm as florestas tropicais.
O texto do Mutirão Global abriu uma porta importante para o avanço da adaptação, com o compromisso dos países desenvolvidos de triplicarem o financiamento até 2035. Esse esforço incluiu, também, instrumentos para endereçarmos a lacuna de ambição das NDCs, como o Acelerador Global de Implementação, reforçou o alinhamento das NDCs com políticas de desenvolvimento e investimento e reconheceu a necessidade de reformular o financiamento internacional para mitigação.
Cento e vinte e duas Partes apresentaram suas Contribuições Nacionalmente Determinadas, com compromissos em reduzir emissões até 2035. Faltam outras Partes, mas esses resultados são ganhos fundamentais para o multilateralismo climático.
Serão necessários muito mais esforços para honrarmos a missão 1.5 que assumimos na COP28 em Dubai.
Nos instrumentos globais para adaptação, também tivemos progresso. Embora haja desafios, pela primeira vez temos um rol de indicadores globais de adaptação que certamente precisam ser aperfeiçoados e ampliados.
Enfim, progredimos, ainda que modestamente.
Amigos e amigas,
Voltando ao nosso encontro com nós mesmos, creio que podemos mostrar, hoje, que apesar dos atrasos, das contradições e das disputas, há uma continuidade entre aquela ambição da Rio-92 e o esforço presente.
Que continuamos capazes de cooperar, de aprender e de reconhecer que não há atalhos e que a coragem para enfrentar a crise climática é resultado da persistência e esforço coletivos.
Mas, mesmo que aquelas versões de nós mesmos nos dissessem que não fomos tão longe quanto imaginávamos e seria necessário, reconheceriam algo fundamental: ainda estamos aqui.
E que seguimos persistindo no compromisso de empreender a jornada necessária para superar nossas diferenças e contradições no urgente enfrentamento da mudança do clima.
Muito obrigada por visitarem a nossa casa, o coração do planeta. Talvez não os tenhamos recebido como vocês merecem, mas recebemos da forma como achamos que é o nosso gesto de amor à humanidade e ao equilíbrio do planeta."
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