Tartarugas-da-Amazônia desovam em um dos maiores berçários naturais da América do Sul

Programa de conservação alia ciência, proteção ambiental e o protagonismo de comunidades amazônicas.

Publicado em 25 de novembro de 2025 às 14:39

Milhares de fêmeas de tartarugas chegam às praias do rio Xingu.
Milhares de fêmeas de tartarugas chegam às praias do rio Xingu. Crédito: Jéssica Santana / Norte Energia

O Refúgio de Vida Silvestre (Revis) Tabuleiro do Embaubal, na região do Médio Xingu, no Pará, recebe mais um ciclo de reprodução das tartarugas-da-Amazônia. Entre agosto e dezembro, milhares de fêmeas de tartarugas, tracajás e pitiús chegam às praias do rio Xingu para depositar seus ovos, num espetáculo natural que transforma o local em um dos maiores sítios de desova de tartarugas de água doce da América do Sul. 

O auge da temporada ocorre entre setembro e novembro, quando o nível das águas e a temperatura da areia criam as condições ideais para a incubação. A partir do fim de outubro, inicia-se o nascimento dos filhotes, que se estende até janeiro, quando as pequenas tartarugas alcançam as águas do Xingu e seguem seu curso natural.

As ações fazem parte do Programa de Conservação e Manejo de Quelônios, desenvolvido há 14 anos pela Norte Energia, concessionária da Usina Hidrelétrica Belo Monte, em parceria com o Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade (Ideflor-Bio), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) e secretarias municipais da região.

O trabalho envolve o monitoramento dos ninhos, a fiscalização das áreas de reprodução e atividades de educação ambiental com as comunidades locais, parte essencial do sucesso do programa. Entre outubro de 2024 e janeiro de 2025, foram identificados cerca de 1.692 ninhos, e 308.567 filhotes foram soltos à natureza, que somam mais de 6,5 milhões de filhotes desde o início das atividades. Mesmo com a estiagem severa na região, o número de nascimentos superou o registrado no ciclo anterior, resultado direto da dedicação das equipes e do engajamento das populações ribeirinhas. No ano de 2025 a equipe já registrou mais de 4.000 ninhos nas praias do Tabuleiro.

“O monitoramento constante e a sensibilização das pessoas, aliados com os saberes das comunidades ribeirinhas e tradicionais da região, são fundamentais para a conservação das espécies. Cada ninho protegido e cada filhote devolvido ao rio representam um avanço na sobrevivência dos quelônios e no equilíbrio dos ecossistemas do Xingu”, afirma Adriana Malvasio, especialista referência em quelônios que atua como consultora do projeto.

Para manter o programa, a Norte Energia já investiu cerca de R$ 26 milhões e conta com um time de biólogos e técnicos ambientais. A conservação dos quelônios é essencial para o equilíbrio ecológico da Amazônia, eles ajudam na dispersão de sementes, contribuem para a manutenção das cadeias alimentares e limpam os rios ao se alimentarem de matéria orgânica em decomposição. Mais do que isso, as tartarugas carregam um profundo simbolismo cultural na região, associadas à longevidade e sabedoria que atravessam gerações.

Criado em 2016, o Revis Tabuleiro do Embaubal abrange 4.033 hectares e está localizado a cerca de 900 km de Belém. O refúgio reúne uma paisagem de rara beleza, formada por praias, várzeas e igapós, e abriga espécies ameaçadas, migratórias e endêmicas.

“O Tabuleiro do Embaubal é um verdadeiro patrimônio ambiental da Amazônia. A cada ciclo reprodutivo, reafirmamos nosso compromisso de conciliar o desenvolvimento energético com a conservação da biodiversidade, fortalecendo também a participação das comunidades locais nesse esforço coletivo”, afirma Roberto Silva, gerente de Meios Físico e Biótico da Norte Energia.

Sobre o Projeto Tartarugas-do-Xingu

O Projeto Tartarugas-do-Xingu é uma iniciativa de voluntariado voltada à conservação das principais espécies de quelônios da região — como a tartaruga-da-Amazônia, o tracajá e o pitiú — e integra o Programa de Conservação e Manejo de Quelônios da hidrelétrica.

Criado em 2018, o projeto já devolveu à natureza cerca de 100 mil filhotes. A iniciativa reafirma o compromisso da Companhia com a conservação da biodiversidade amazônica e o desenvolvimento sustentável na região do Xingu.