Publicado em 23 de outubro de 2025 às 16:55
Pesquisadores da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) vão embarcar nesta sexta-feira (24) no navio-laboratório “Ciências do Mar II” para estudar a biodiversidade da chamada “Amazônia azul”, a região do mar amazônico ainda pouco conhecida pela ciência. A embarcação sairá de Belém e percorrerá mais de 3 mil quilômetros em mar aberto durante cerca de dez dias.>
A equipe será formada por nove pesquisadores e nove estudantes da Ufra e de outras instituições brasileiras, que vão estudar microorganismos, microalgas, invertebrados, crustáceos, esponjas, peixes, baleias, golfinhos e aves. O objetivo é conhecer melhor a vida marinha da região e identificar espécies que ainda não foram descritas pela ciência.>
“Existe um saber de alto nível voltado para a Amazônia verde, as florestas, a área continental. Mas a parte costeira, marinha, ainda é pouco conhecida. Nessas pesquisas esperamos encontrar inclusive espécies que ainda não foram descritas pela ciência, espécies novas. O mar amazônico vai do Amapá ao Piauí, são quilômetros de extensão e se conhece de forma muito superficial essa biodiversidade toda. Sabemos, por estudos anteriores, que na Amazônia existe um mar de esponjas único do mundo, um verdadeiro jardim submarino com esponjas de vários metros de altura e ainda pouco conhecidos”, diz o coordenador-chefe do cruzeiro na Amazônia, Eduardo Tavares Paes, doutor em Oceanografia e professor da Ufra.>
Segundo o pesquisador, o projeto também ajuda a preservar o ambiente marinho, especialmente diante das mudanças climáticas. “Nós já sabemos que em muitas regiões, no arquipélado do Marajó, por exemplo, já existe salinização dos rios, porque o oceano está entrando. Mas quanto isso impacta diretamente na fauna marinha, que consequentemente impacta nas comunidades locais?”, diz.>
O navio serve também para formação prática de alunos de graduação e pós-graduação dos cursos de biologia marinha, engenharia de pesca, engenharia ambiental e da pós-graduação em Aquicultura e Recursos Aquáticos Tropicais da Ufra. A embarcação possui laboratórios, guinchos, guindastes e outros equipamentos científicos, permitindo que os estudantes aprendam a usar esses recursos e realizem coletas e análises de amostras do ambiente marinho.>
“Uma das metas é formar alunos através da experiência embarcada. Por isso pesquisadores mais experientes e alunos que vão aprender a bordo os protocolos, usar equipamentos e ter um treinamento mais avançado nos estudos e planejamento”, diz o coordenador.>
O Ciências do Mar II integra uma frota nacional de quatro embarcações idênticas, financiadas pelos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT), pelo CNPq e adquiridas pelo Ministério da Educação em parceria com a Marinha Brasileira. O objetivo é conhecer de maneira aprofundada e comparável a biodiversidade marinha do país, do Oiapoque (AP) ao Chuí (RS). Pela primeira vez, os quatro navios realizarão cruzeiros simultaneamente em todo o país. Expedições já foram realizadas nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste, e agora é a vez da região Norte, na Amazônia Azul.>
“É a primeira vez no Brasil que se faz um ampla prospecção biológica e oceanográfica ao mesmo tempo, com a mesma metodologia, mesmo tipo de coleta de dados, imagens de satélite, medidas de corrente, coletas de agua. É um grande esforço para se conhecer a biodiversidade brasileira. E pela primeira vez também a Ufra entra no cenário nacional das Ciências Marinhas, participando como protagonista, uma conquista que a universidade celebra nesse momento”, diz o pesquisador.>
Os materiais biológicos coletados serão analisados tanto a bordo do navio quanto nos laboratórios da universidade, incluindo equipamentos adquiridos pelo projeto que permanecerão na instituição.>
Estão previstos mais dois embarques em 2026, mas a meta é continuar com esse tipo de trabalho. “O conhecimento do mar não se encerra nesse cruzeiro. A ideia é que aos poucos possamos constituir cruzeiros regulares que não dependam mais de recursos de fora da Amazônia, que as nossas universidades consigam captar recursos e ter suas embarcações e centros de pesquisa, esse é só o começo. Daqui há algum tempo quem sabe não temos um Centro de Estudos de Biodiversidade Marinha Amazônica, que ainda não tem nenhum”, diz.>