Publicado em 23 de agosto de 2025 às 17:27
O piano está silente. As notas que dele saíram, fluidas e melodiosas, dão lugar ao vazio do luto. Sem colcheias, semínimas ou semibreves, apenas uma pausa infinita. É assim que o instrumento de trabalho de Miguel Proença recebe a notícia de sua morte.>
O pianista gaúcho de renome internacional faleceu nessa sexta-feira (22), aos 86 anos. Ele estava internado desde junho no Hospital São Vicente, na Gávea, bairro do Rio de Janeiro. Proença teve falência múltipla de órgãos.>
Nascido em Quaraí, na fronteira com o Uruguai, Miguel Proença ganhou o mundo à frente de um piano. Foi um dos grandes porta-vozes da música erudita brasileira na Europa, Ásia e América do Norte. Lecionou na Alemanha e no Rio de Janeiro e deu enorme contribuição para a música erudita brasileira.>
“Ele foi um pianista maravilhoso. Ele tinha uma visão da música brasileira quando não se tinha”, explica o Gerente Executivo de Rádios da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Thiago Regotto.>
“Como ele conviveu com parte dos grandes compositores, com Villa Lobos, com Camargo Guarnieri, com Radamés Gnattali, ele sabia na fonte qual era a importância da música brasileira de concerto. E ele gravou esses compositores e essas gravações circularam o mundo. Então, ele foi um dos pianistas responsáveis por levar a música brasileira de concerto para o exterior”, acrescenta.>
Rádio MEC>
Proença também produziu e apresentou programas na Rádio MEC entre as décadas de 1970 e 1990. No veículo, que atualmente integra a rede de comunicação pública da EBC, ele esteve à frente do clássico Música e Músicos do Brasil, programa que existe desde 1958. Nele, entrevistava grandes nomes da música erudita.>
Na Rádio MEC, também produziu a série A Arte do Piano, onde contava a história de pianistas célebres e mostrava algumas de suas gravações.>
O pianista não ficava só à frente das teclas. Por vezes, trocava o piano pelas mesas de trabalho, quando foi presidente da Fundação Nacional das Artes (Funarte) e Secretário Municipal de Cultura do Rio de Janeiro. Também foi diretor da Sala Cecília Meirelles. "Essa veia na gestão foi uma veia praticamente única, pioneira, de artistas compositores que começaram a migrar para a gestão da cultura. Ele fez isso durante vários momentos da carreira dele", contou Regotto.>
Duas paixões>
“O primeiro contato com a música se deu quando ouvi pela primeira vez o som de um piano, passeando com minha mãe, vindo de um casarão, na minha cidade natal. Foi paixão à primeira vista”, disse o músico, em entrevista concedida ao Instituto do Piano Brasileiro, em 2016. Começou a estudar piano aos 15 anos e, anos mais tarde, passou a dividir suas atenções entre a música e o curso de odontologia.>
Mas foi outra paixão que o motivou a seguir carreira no piano e largar os consultórios. Apaixonou-se pela também pianista Marly Lisboa. E incentivado por ela, aprofundou seus estudos no piano e uniu as duas grandes paixões. Tornou-se um grande pianista e casou-se com Marly. O casamento ocorreu na Alemanha, onde tinha bolsa de estudos garantida pelo governo daquele país.>