Paciente do SUS descobre que fígado transplantado tinha câncer

Homem de 58 anos foi diagnosticado com tumor meses após cirurgia feita no Hospital Albert Einstein; exames confirmaram que o câncer veio do órgão doado

Publicado em 16 de outubro de 2025 às 13:52

Homem de 58 anos foi diagnosticado com tumor meses após cirurgia feita no Hospital Albert Einstein; exames confirmaram que o câncer veio do órgão doado
Homem de 58 anos foi diagnosticado com tumor meses após cirurgia feita no Hospital Albert Einstein; exames confirmaram que o câncer veio do órgão doado Crédito: Reprodução 

Um caso raro chamou a atenção da comunidade médica: um paciente do Sistema Único de Saúde (SUS) descobriu que o fígado recebido em um transplante tinha câncer.

A cirurgia foi realizada no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, por meio do Programa Proadi-SUS, que conecta hospitais de referência a pacientes da rede pública.

Geraldo Vaz Junior, de 58 anos, foi diagnosticado com hepatite C em 2010 e, anos depois, desenvolveu cirrose hepática, o que o colocou na fila de transplantes.

Em julho de 2023, ele finalmente recebeu o novo órgão. A cirurgia correu bem, mas sete meses depois exames apontaram nódulos suspeitos no fígado transplantado.

De acordo com documentos obtidos pelo g1, uma biópsia confirmou a presença de adenocarcinoma, um tipo de tumor maligno. Um teste de DNA revelou que as células cancerígenas não pertenciam ao paciente, mas sim ao doador do órgão, o que confirma que o câncer foi transmitido pelo transplante.

“Foi devastador. Meu marido recebeu um órgão com câncer. Esperamos anos por essa chance, mas ele saiu de lá mais doente”, disse Maria Helena Vaz, esposa do paciente.

Após a descoberta, Geraldo passou por um novo transplante, mas o câncer já havia se espalhado para o pulmão. Hoje, segundo a família, ele está em tratamento paliativo, sem possibilidade de cura.

O Hospital Albert Einstein foi procurado, mas não se manifestou até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto para posicionamento.

Transplante com câncer: risco quase impossível de prever

Segundo o Manual de Transplantes (2022), do Ministério da Saúde, pacientes com câncer ativo não podem ser doadores de órgãos.

Antes da doação, é feita uma triagem rigorosa para descartar infecções e tumores — o processo inclui:

• Exames sorológicos, como HIV, hepatites, sífilis e citomegalovírus;

• Testes laboratoriais de função dos órgãos, como creatinina e enzimas hepáticas;

• Exames de imagem, como ultrassonografia ou tomografia, se houver suspeita de neoplasia;

• E avaliação visual direta do órgão durante a captação.

Caso exista qualquer suspeita de tumor, o órgão é imediatamente descartado.

No entanto, o próprio manual admite que nenhum método é totalmente infalível: células malignas microscópicas podem passar despercebidas mesmo em análises detalhadas.

Casos como o de Geraldo são descritos na literatura médica como “extremamente raros” e praticamente impossíveis de prever.

Com informações do G1