Publicado em 19 de maio de 2025 às 16:26
O município de Ananindeua, na Região Metropolitana de Belém (RMB), vem enfrentando há meses uma séria crise na saúde, com escândalos envolvendo dívidas contraídas pela atual gestão municipal, o que tem prejudicado o atendimento à população no município que precisa recorrer aos atendimentos oferecidos na capital.>
Segundo dados do Portal da Transparência, atualizados no mês passado, mais de R$ 103 milhões já foram pagos pela Prefeitura de Ananindeua ao Hospital Santa Maria, desde janeiro de 2021 até 8 de maio de 2025. O hospital já foi propriedade do atual prefeito, Dr. Daniel Santos.>
Em contrapartida, outros hospitais e clínicas da cidade enfrentam dificuldades extremas, com atrasos nos pagamentos, fechamento de unidades e risco de falência.>
O primeiro hospital a encerrar as atividades durante a gestão do prefeito Daniel Santos foi o Camilo Salgado, no bairro do Coqueiro, desapropriado em 2021 para a construção do Pronto Socorro Municipal. A indenização, de R$ 14 milhões, deveria ter sido paga integralmente em 2022, mas os pagamentos atrasaram por até 6 meses. Em dezembro de 2023, com a suspensão dos pagamentos, a Prefeitura ainda devia R$ 4 milhões aos donos do hospital. Em março de 2024, os proprietários entraram na Justiça para tentar receber o valor, afirmando que o calote impediu a reabertura do hospital em outro local.>
Em 2023, o Hospital de Clínicas de Ananindeua (HCA) quase faliu devido aos calotes. Em janeiro de 2024, o Hospital Anita Gerosa, única maternidade 24h da cidade, encerrou suas atividades. A crise também ameaça o Centro de Hemodiálise Ari Gonçalves (CEHMO), enquanto uma clínica de hemodiálise do Santa Maria continua operando sem dificuldades.>
Até o final do ano passado, a Prefeitura devia cerca de R$ 13 milhões ao HCA, Anita Gerosa e CEHMO, mesmo recebendo em média R$ 21 milhões mensais do SUS e tendo pago mais de R$ 22 milhões ao Santa Maria só em 2024.>
Com a precariedade da rede hospitalar local, os moradores de Ananindeua buscam cada vez mais atendimento em hospitais de Belém e do Governo do Estado. Em dois anos, houve um aumento de 88% nos atendimentos ambulatoriais e hospitalares a pacientes vindos de Ananindeua, segundo dados do Sistema de Informações Ambulatoriais e Hospitalares (SIA/SIH) do Ministério da Saúde.>
Ainda segundo os dados, os atendimentos subiram de 196.225 no primeiro trimestre de 2023 para 368.518 no mesmo período de 2024. Esse aumento expressivo estaria sobrecarregando os hospitais de Belém.>
Indícios de favorecimento e prejuízo à concorrência>
O Ministério Público do Pará (MPPA) aponta indícios de que o caos nos hospitais de Ananindeua seria uma estratégia para “eliminar a concorrência” em favor do Hospital Santa Maria. Entre 2021 e 2024, o Sistema Único de Saúde (SUS) repassou quase R$ 1 bilhão para a Prefeitura, mais da metade destinada aos serviços hospitalares e ambulatoriais. Mesmo assim, hospitais e clínicas locais ficaram sem pagamento, enfrentando atrasos de até 6 meses ou mais.>
Repasse milionário ao Hospital Santa Maria (2021 - 2025):>
• 2021: R$ 17.417.507,45>
• 2022: R$ 25.871.198,06>
• 2023: R$ 29.519.786,14>
• 2024: R$ 22.084.260,03>
• 2025 (até 08/05): R$ 8.441.403,23>
• Total: R$ 103.334.154,91>