Publicado em 17 de setembro de 2025 às 11:02
Nos dias 13 e 14 de outubro de 2025, Brasília será o centro das atenções diplomáticas ao sediar a Pre-COP30, encontro ministerial que antecede a Conferência das Partes da Convenção do Clima da ONU (COP30). Embora não figure no calendário oficial da UNFCCC, esse tipo de reunião preparatória já se consolidou como um espaço estratégico para reduzir arestas, testar consensos e calibrar posições antes da maratona de negociações multilaterais.>
A escolha da capital federal para receber o encontro é simbólica. Se Belém será a vitrine da Amazônia diante do mundo em novembro, Brasília oferece o ambiente institucional onde a política externa brasileira se articula com a política interna. É nesse território híbrido que ministros, embaixadores e especialistas poderão dialogar com mais liberdade, longe da pressão das manchetes internacionais, mas com a consciência de que cada gesto ecoará no Pará semanas depois.>
O que está em jogo>
A Pre-COP30 deve reunir representantes de cerca de 65 delegações nacionais, além de mais de 600 participantes, entre negociadores, técnicos e observadores. O encontro terá como palco o Centro Internacional de Convenções do Brasil (CICB), na Asa Sul, com programação intensa entre 9h e 18h durante os dois dias.>
O objetivo principal vai além de preparar a logística do grande evento em Belém. Trata-se de uma oportunidade para revisitar os dez anos de vigência do Acordo de Paris, marco da governança climática internacional, avaliando avanços, lacunas e a necessidade de novas estratégias. Questões centrais estarão na mesa: adaptação às mudanças climáticas, financiamento para a transição justa, a implementação das metas do Balanço Global (GST) e as perspectivas para florestas e energias renováveis.>
Esses são temas que testam a coesão da comunidade internacional. Países em desenvolvimento reivindicam maior apoio financeiro e tecnológico, enquanto as nações desenvolvidas enfrentam pressões internas para acelerar a descarbonização sem perder competitividade econômica. A Pre-COP oferece o espaço para antecipar impasses e buscar pontos de convergência antes do debate público em Belém.>
A trajetória até Belém>
A candidatura do Brasil para sediar a COP30 foi anunciada por Lula durante a COP27, no Egito, em 2022, e endossada no ano seguinte pelo Grupo de Estados da América Latina e do Caribe. Em Dubai, durante a COP28 de 2023, o consenso confirmou Belém como anfitriã do evento. A presidência brasileira da conferência terá início oficialmente em novembro de 2025 e se estenderá até novembro de 2026.>
Essa sequência mostra como a Pre-COP30 é parte de um enredo mais amplo. Não se trata apenas de preparar uma conferência, mas de reafirmar o protagonismo brasileiro em um momento crítico. O país chega com credenciais renovadas: reduziu o desmatamento na Amazônia, reaproximou-se das agendas multilaterais e promete alinhar política externa e política climática doméstica.>
Os encontros preparatórios como a Pre-COP são, muitas vezes, onde se desenham os contornos invisíveis dos grandes acordos. É no ambiente mais restrito, sem a teatralidade das sessões plenárias, que os países testam concessões e sondam alianças. Brasília, por dois dias, será palco desse laboratório diplomático.>
Se a COP30 em Belém pretende deixar um legado de ambição climática e inclusão social, a Pre-COP será o ensaio geral. É ali que se medirá até onde vai a disposição de construir compromissos concretos e quanto ainda persistem os bloqueios que há décadas travam o avanço das negociações internacionais. No fim das contas, o sucesso de Belém começa a ser escrito em Brasília.>
A presença brasileira>
A abertura do encontro contará com as principais lideranças do governo federal. Estarão presentes o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro das Relações Exteriores Mauro Vieira, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima Marina Silva, a ministra dos Povos Indígenas Sonia Guajajara e o ministro da Fazenda Fernando Haddad.>
Também participarão figuras-chave da organização da COP30: o presidente da conferência, embaixador André Corrêa do Lago, a diretora executiva Ana Toni e o secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente, embaixador Mauricio Lyrio. A composição sinaliza que o Brasil pretende articular uma agenda diplomática que conecta diplomacia, economia e justiça socioambiental.>