Publicado em 21 de maio de 2025 às 12:07
Os bebês reborn, bonecos realistas criados para se parecer com recém-nascidos, viraram alvos de engajamentos e discussões nas redes sociais nas últimas semanas. A psicanalista da infância e adolescência Carolina Delboni, que também é educadora, apontou que, na maioria dos casos, essas mulheres são apenas colecionadoras e acabam sendo cobradas em razão do entendimento da sociedade de que o papel que lhes cabe é o da maternidade.>
Segundo ela, não há estranhamento quando os homens colecionam objetos. Para a especialista, o caso só se transforma em problema de saúde mental "quando a pessoa vive em função da boneca".>
Os bebês reborn se popularizaram no Brasil nas últimas duas décadas e voltaram a ganhar visibilidade nacional. As bonecas hiper-realistas passaram de brinquedos de crianças a objetos de desejo de adultos.>
Confeccionados artesanalmente com materiais como vinil ou silicone e aplicações de pintura e de cabelo, além de detalhes que simulam a pele humana, eles já são confundidos com bebês de verdade e despertaram o "tribunal" de usuários das plataformas digitais, com julgamentos principalmente de mulheres que os carregam no colo.>
Nos últimos anos, os que adquirem esses bebês estão dispostos a investir quantias altas em roupinhas, acessórios e até pagam pela experiência de ver o “nascimento” das bonecas em lojas que simulam maternidades.>
O que faz uma pessoa se apegar a um bebê reborn?>
Um estudo feito por pesquisadores da Universidade de Toronto, no Canadá, revelou que a brincadeira de adultos com as bonecas hiper-realistas está profundamente ligada a necessidades emocionais, criativas e terapêuticas.>
Os autores do estudo afirmam que adultos interagem com as bonecas para estabelecer vínculos emocionais, dar vazão à expressão criativa e vivenciar benefícios terapêuticos significativos. Isso porque a atividade proporciona conforto, estimula a autoexploração e contribui para o bem-estar geral.>
Mas existem também outros motivos que podem explicar o apego de adultos aos bebês reborn. O psiquiatra Raphael Boechat Barros, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB), explica que as pessoas podem se apegar a bebês realistas simplesmente como colecionadoras.>
“Podem ser pessoas que tinham o hábito de colecionar bonecas na infância e trazem uma vivência do passado, assim como homens têm com carrinho. Praticamente todas as mulheres brincaram de boneca e uma parte delas está revivendo isso depois de adulta”, conta o psiquiatra.>
O médico também aponta como causa a popularidade que as bonecas ganharam, virando um modismo com disseminação em redes sociais. “A partir do momento que isso fica mais frequente na mídia digital, mas gente se interessa. É um efeito cascata”, conta.>
Por outro lado, o médico considera que várias outras possibilidades podem estar por trás da obsessão pelas bonecas. Desde quadros psiquiátricos graves — como quadros psicóticos, neuróticos — a considerações relacionadas à autoestima, insegurança e solidão.>
A psicóloga Deyse Sobral, que atende em Brasília, acrescenta que algumas pessoas com dificuldades e receios comuns de vivenciar relações de maior intimidade podem acabar criando vínculos de fantasia com as bonecas. “Isso proporciona uma falsa sensação de segurança, controle e proteção, evitando conflitos reais e mantendo harmonia superficial, agindo como um mecanismo de defesa”, explica.>
A psicóloga conta que a maioria das pessoas sabe diferenciar a realidade da ficção. Aprendemos isso com os filmes, séries de TV, peças de teatro e videogame. Quando eles terminam, voltamos do mundo lúdico para o real. Contudo, quando a questão faz parte do dia e a rotina do indivíduo, ele pode ter outra dimensão ou mesmo ter um cunho de disfuncionalidade.>
“Em casos onde são estabelecidos vínculos maiores, quase que com uma personificação do bebê reborn, podem haver implicações no estabelecimento de vínculos reais, isolamento, e dificuldades em lidar com demandas reais, o que representa um sinal de alerta e por conseguinte demanda melhor entendimento e cuidado profissional”, ressalta Deyse.>
Como saber se a brincadeira passou dos limites?>
Os especialistas ressaltam que cada caso deve ser avaliado individualmente por um profissional de saúde qualificado (psicólogo ou psiquiatra), uma vez que os motivos que levam as pessoas a “adotarem” os bebês reborn são diversos.>
“Se isso toma uma dimensão muito grande na vida da pessoa, é legal ela fazer uma avaliação”, afirma Raphael Boechat Barros.>