Publicado em 22 de outubro de 2025 às 18:54
O Conselho de Ética da Câmara dos Deputados arquivou, nesta quarta-feira, 22, representação feita pelo PT que pedia a cassação do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Há ainda outras quatro representações contra o mesmo parlamentar que estão na direção da Mesa da Câmara aguardando envio para o Conselho de Ética.>
O relator da representação, Delegado Marcelo Freitas (União-MG), apresentou voto pedindo a rejeição do texto. O placar terminou com 11 votos favoráveis ao parecer e 7 contra.>
O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), afirmou que o partido recorrerá da decisão do Conselho de Ética no plenário da Câmara.>
Na representação feita ao Conselho de Ética, o PT diz que, em declarações, Eduardo incitou a ruptura do processo eleitoral, tentou submeter a jurisdição nacional ao escrutínio de potências estrangeiras e cometeu atos de hostilidade à ordem constitucional e ao estado democrático de direito.>
Segundo o relator, a representação parte de uma premissa "equivocada", e o deputado do PL não foi responsável por sanções impostas ao Brasil e a autoridades do País.>
"A representação parte de uma premissa equivocada: a de que o representado seria de alguma forma responsável por uma eventual adoção de medidas coercitivas ou sanções por parte dos Estados Unidos contra o Brasil. Tal raciocínio é factualmente insustentável e juridicamente improcedente, pois confunde atos de Estado soberano com manifestações individuais de natureza política. A decisão de um país estrangeiro de adotar ou não sanções econômicas, diplomáticas ou políticas, é, em essência, ato de soberania", diz.>
Nesse mesmo relatório, Freitas também diz que as declarações de Eduardo nos Estados Unidos continuam protegidas com base na prerrogativa parlamentar de inviolabilidade de opinião, palavras e votos e que ele exerce o "direito de crítica política".>
"Esta prerrogativa não se circunscreve apenas ao âmbito interno ou aos pronunciamentos formais em plenário; ela se projeta para o contexto internacional, refletindo a natureza supraindividual da representação política, que transcende limites geográficos", afirma o relator.>
Oposicionistas elogiaram o trabalho de Freitas. "Não cabe o prosseguimento (da representação). Não acho que isso aqui seja um campo de batalha ideológica e política", disse Sóstenes Cavalcante (RJ), líder do PL na Câmara.>
Parlamentares do Centrão manifestaram apoio à decisão do arquivamento. "Acabou a era das inquisições", afirmou José Rocha (União-BA). "A Constituição nos garante esse direito: de opinião, palavra e voto. Não cabe a nós parlamentares estarmos julgando colegas que através de palavras, opiniões e voto.">
Governistas protestaram. "Qual a diferença de quem entrou e apedrejou o Supremo (no 8 de Janeiro) e o que esse senhor fez nos Estados Unidos?", questionou Lindbergh Farias (RJ), líder do PT na Câmara.>
O PT chegou a pedir para tirar Freitas da relatoria. O deputado do União já chamou Eduardo Bolsonaro de "amigo". O presidente do Conselho de Ética, Fabio Schiochet (União-SC) rejeitou o pedido>
Freitas foi vice-líder do governo de Jair Bolsonaro. Recentemente, o deputado votou a favor a proposta de emenda à Constituição (PEC) da Blindagem, da anistia aos envolvidos no 8 de Janeiro, da sustação da ação penal do colega parlamentar Alexandre Ramagem (PL-RJ), agora condenado por fazer parte do plano que tentou um golpe de Estado no País, e contra a prisão de Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), acusado de ser o mandante da ex-vereadora do Rio Marielle Franco.>
O relator da representação contra Bolsonaro respondeu a argumentos de governistas "Estou buscando a independência do Parlamento brasileiro, que tem sido usurpado em suas competências constitucionais como nunca se viu na história dessa República", disse Freitas.>
"Essa Casa do povo abriu vários precedentes e permitiu que o Parlamento fosse reduzido a um papel secundário", prosseguiu o relator. "Chegou o momento de fazermos pairar na Câmara dos Deputados o direito mais do que legítimo que o parlamentar possa se manifestar em território nacional ou no estrangeiro.">
Eduardo foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR), no fim de setembro, por "coação" no processo da trama golpista. O procurador-geral da República, Paulo Gonet, concluiu que ele e o blogueiro Paulo Figueiredo articularam sanções nos Estados Unidos contra o Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar pressionar os ministros a não condenar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).>
Em nota conjunta, Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo disseram ser alvo de "perseguição política", atribuíram a denúncia a "lacaios" do ministro Alexandre de Moraes, disseram que vão continuar a campanha nos Estados Unidos e informaram que vão aguardar a notificação formal para se manifestar no processo.>